- LÉO -
Tessy foi nossa primeira e maravilhosa Border Collie que, além da alegria, inteligência e hiperatividade próprias da raça, nos deu também três belas ninhadas. A primeira e a última com um macho de seu canil de origem, lá no Butantã, em São Paulo. A segunda foi com o Lupi, o cãozinho do Sérgio e da Rose ao qual, depois da cruza, passei a devotar meu mais profundo respeito pelo êxito obtido após a inacreditável tarefa de romper vários vergalhões de aço do recinto onde estava isolado, coitado, e ainda da malabaríssima performance ao emprenhar uma parceira duas vezes mais alta, essa, agora sim, coitada, no sentido etimológico da palavra.
Mas foi só no terceiro coito que ganhamos Timão (assim nomeado quando o alvinegro paulista deixou a segunda divisão em outubro de 2007) e Léo, assim chamado porque sua cor destoava dos demais e lembrava muito a de um leãozinho. A restante meia dúzia dos oito puppies foi doada para bons amigos, dos quais, nesse momento, lembro-me do João, grande amigo baterista, hoje gerente de cultura da Prefeitura dessa nossa adotada Extrema.
Léo já nasceu, cresceu e viveu de forma incomum, a primeira delas na própria concepção, pois temos sérias suspeitas de que, apesar da cruza ter acontecido e ter sido registrada lá no canil do Butantã, há indícios de que um último óvulo possa ter sido fertilizado a partir de uma pulada de cerca no momento em que chegamos com Tessy de volta ao sítio.
Vivemos uma curiosa época na qual a diversidade vem ganhando muito valor e Léo, aproveitando-se dessa onda, tornou-se o líder, o macho-alfa. E até ele, o Timão, apesar de típico tricolor da raça, mais forte, ágil e natural merecedor dessa glória, teve de aceitar a indiscutível liderança de seu irmão.
Além dessas, as outras qualidades do querido Léo foram o acolhimento, a amizade e a segurança que ele sabia tão bem expressar e que quase todos sentiam, retribuíam e não economizavam atenção e carinho. Quantas vezes foi ele o cicerone dos que visitavam o sítio pela primeira vez, quantas vezes acompanhou amigos e familiares pelas trilhas na mata ou por longas caminhadas pelas vizinhanças rurais de nossa propriedade.
Léo sofria de um problema no sistema digestivo, decorrente, muito provavelmente, de uma mordida de cobra, sofrida quando tinha uns dois anos de vida. Seu pâncreas tornou-se deficiente e exigia um reforço contínuo de creatinina. Essa moléstia acabou afetando suas adrenais, o que nos obrigou a ministrar remédios mais fortes e que o mantiveram vivo, mas com o organismo bastante prejudicado, embora ele ainda se mostrasse bastante ativo.
Léo era nosso mestre de cerimônias, função da qual nunca abriu mão até seu último dia. Já semiparalisado, arrastou-se, naquela manhã do sábado de Aleluia de 2021, para o local de onde monitorava a chegada dos automóveis para depois galopar até o estacionamento e manifestar, com vigorosos abanos de rabo, as melhores, mais alegres e autênticas boas-vindas aos visitantes.
Ah, que saudades...