- EU E A NESPEREIRA -
Conto esta história a partir de uma das mais importantes, ricas e proveitosas decisões que tomei em minha vida, quando fui procurar apoio psicológico. Tive sorte de encontrar tudo o que foi, para mim, o melhor caminho - o da Análise Transacional, tema que tratei neste blog na postagem “Os Jogos da Vida”.
Concluí o curso 101, que é o inicial, com um trabalho que teve o mesmo título deste texto e que começa lembrando que todos nós temos um tio, um primo mais velho, um avô ou mesmo um amigo que sempre nos oferece uma palavra sábia ou uma história reveladora. Podem ser mesmo frases ou ensinamentos dos quais ainda nos lembramos com sentimentos de saudades, sim, mas sempre agradáveis.
Ainda criança, morava com pai, mãe e irmão mais novo num sobrado das Perdizes com um grande quintal onde, entre plantas rasteiras, arbustos e algumas árvores maiores, havia uma nespereira plantada num recorte frio da casa aonde não chegavam os raios de sol.
A nespereira foi crescendo rapidamente e já chegava perto do beiral do telhado, mas para minha frustração nada das esperadas nêsperas. E foi um daqueles tios que mostrou a tal sabedoria, explicando que, normalmente, essa árvore não cresceria tanto assim, ou nem tão rapidamente, mas ela precisava de luz solar para produzir seus frutos, disponibilizar suas sementes e assim preservar sua espécie - era a lei da natureza.
E não deu outra, porque quando as folhas dos galhos mais altos avistaram finalmente o astro-rei, as primeiras flores despontaram e fizeram surgir, ainda que timidamente, o lindo amarelo de suas pequenas frutas.
Antes ainda de me sentar nos bancos da escola primária, já aprendera eu essa preciosa lição - que seres vivos, sejam eles plantas, animais ou mesmo humanos, nascemos todos com nossas próprias e únicas características e, sem exceção, recebemos em nossa origem vital, uma determinação quase mágica para viver, crescer e multiplicar.
Essa é a missão fundamental que se observa desde nossa concepção, na luta do feto para vencer todos os obstáculos e compor estrutura física suficiente para romper o jugo da placenta e então respirar por sua própria conta e risco.
A nespereira alterou seu projeto-padrão para suplantar a barreira daquele telhado opressor e receber energia solar, única maneira de garantir que suas funções orgânicas fossem capazes de dar conta da missão que a natureza lhe confiara.
Mais tarde, e como consequência desse aprendizado, descobri também que, a qualquer tempo de nossa vida, estará imperando nosso compromisso de buscar o sol, mesmo e principalmente quando o ambiente parecer muito frio, e sejam quais forem as vozes interiores que nos tentem dissuadir de nosso propósito.
E por termos recebido a graça do livre arbítrio, cabe-nos, não só por nós, mas pelos que amamos e que nos amam, o dever maior de nos cuidar, de viver, crescer e prosperar.