A ASSERTIVIDADE
Era novembro de 2021, domingo, eu assistindo meu pobre time apanhar feio. No intervalo do jogo, mudo de canal ouço comentário sobre um tal
sistema de algoritmos para pesquisas, desenvolvido para melhorar a
“assertividade dos resultados”.
Tenho visto e ouvido com certa frequência esse uso
terrivelmente impróprio da palavra “Assertividade” a qual, anos atrás, só
frequentava as clínicas de psicoterapia e os livros de autoajuda, mas agora
está na moda e povoa o linguajar dos jornalistas.
Como se sabe, “assertividade” nada tem a ver com a palavra “acerto”, nem mesmo se escreve com a
letra “c”. Ela deriva do verbo em
inglês “to assert”, também com dois “ss” e significa afirmar, asseverar e,
até mesmo em certos contextos, pode significar “reclamar” ou “reivindicar”.
Tecnicamente ASSERTIVIDADE é a “habilidade social de
fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e
crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a
não violar o direito e o respeito a outras pessoas. A postura assertiva é uma
virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um
por excesso (agressão), outro por falta (submissão). Ser assertivo é dizer
"sim" e "não" quando cada umas dessas expressões forem
necessárias”.
Essa uma boa definição que está na Dicio, o Dicionário
Online de Português, para quem queira verificar, e não é muito diferente
daquela que estudei, divulguei e ensinei em vinte anos de trabalhos na área da
comunicação interpessoal.
Anos atrás, quando escrevia uma coluna semanal para um jornal, enviei um texto com o título “A ASSERTIVIDADE”. O
editor do jornal gostou e mandou publicar recomendando “título em destaque”, e
assim foi feito. Dias após, ao abrir o hebdomanário, deparei com meu texto com
o destaque ganho em tipos graúdos e negrito: “A ACERTIVIDADE”, isso mesmo, escrito com um “C”.
É possível que para muitos isso tenha passado despercebido,
ou tenha sido considerado sem importância, mas para quem estudou, divulgou e
usou essa expressão tantas vezes em suas palestras, explicando o conceito,
dando exemplos, fazendo exercícios e avaliações, não foi o que aconteceu. A visão daquele
estúpido “C” produziu em meu cerebelo uma hecatombe de ódio, indignação e
inconformismo.
E não havia mais o que fazer, o jornal já estava no café da
manhã de todos os leitores da cidade, era aquela sensação de "não poder mais para
apagar a mensagem depois de enviada!"
Naquela situação não fui nada assertivo, pelo contrário, extrapolei
todos os limites da minha assertividade. Passei a mão no telefone (expressão
velha essa, hein?) e vociferei poucas e boas ao infeliz que atendeu minha ligação. Foi tudo o que pude fazer.
Alguns amigos tentaram me conformar, afinal foi só uma letra, diziam. Que fosse só uma vírgula, e vocês sabem que diferença pode fazer uma vírgula numa frase, que dizer de um hexassílabo em letras garrafais!
E cá entre nós, sampaulinos, foi quase hein?