quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A ASSERTIVIDADE


Era novembro de 2021, domingo, eu assistindo meu pobre time apanhar feio. No intervalo do jogo, mudo de canal ouço comentário sobre um tal sistema de algoritmos para pesquisas, desenvolvido para melhorar a “assertividade dos resultados”.

Tenho visto e ouvido com certa frequência esse uso terrivelmente impróprio da palavra “Assertividade” a qual, anos atrás, só frequentava as clínicas de psicoterapia e os livros de autoajuda, mas agora está na moda e povoa o linguajar dos jornalistas.

Como se sabe, “assertividade” nada tem a ver com a palavra “acerto”, nem mesmo se escreve com a letra “c”. Ela deriva do verbo em inglês “to assert”, também com dois “ss” e significa afirmar, asseverar e, até mesmo em certos contextos, pode significar “reclamar” ou “reivindicar”.

Tecnicamente ASSERTIVIDADE é a “habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito e o respeito a outras pessoas. A postura assertiva é uma virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão). Ser assertivo é dizer "sim" e "não" quando cada umas dessas expressões forem necessárias”.

Essa uma boa definição que está na Dicio, o Dicionário Online de Português, para quem queira verificar, e não é muito diferente daquela que estudei, divulguei e ensinei em vinte anos de trabalhos na área da comunicação interpessoal.

Anos atrás, quando escrevia uma coluna semanal para um jornal, enviei um texto com o título “A ASSERTIVIDADE”. O editor do jornal gostou e mandou publicar recomendando “título em destaque”, e assim foi feito. Dias após, ao abrir o hebdomanário, deparei com meu texto com o destaque ganho em tipos graúdos e negrito: “A ACERTIVIDADE”, isso mesmo, escrito com um “C”.

É possível que para muitos isso tenha passado despercebido, ou tenha sido considerado sem importância, mas para quem estudou, divulgou e usou essa expressão tantas vezes em suas palestras, explicando o conceito, dando exemplos, fazendo exercícios e avaliações, não foi o que aconteceu. A visão daquele estúpido “C” produziu em meu cerebelo uma hecatombe de ódio, indignação e inconformismo.

E não havia mais o que fazer, o jornal já estava no café da manhã de todos os leitores da cidade, era aquela sensação de "não poder mais para apagar a mensagem depois de enviada!"  

Naquela situação não fui nada assertivo, pelo contrário, extrapolei todos os limites da minha assertividade. Passei a mão no telefone (expressão velha essa, hein?) e vociferei poucas e boas ao infeliz que atendeu minha ligação. Foi tudo o que pude fazer.

Alguns amigos tentaram me conformar, afinal foi só uma letra, diziam. Que fosse só uma vírgula, e vocês sabem que diferença pode fazer uma vírgula numa frase, que dizer de um hexassílabo em letras garrafais! 
Para mim foi como um Morumbi lotado que me vaiava contínua e ensurdecedoramente. E nesse tipo de jogo não interessa de quem foi a falta, ou mesmo se houve falta, o resultado foi um desastre pior do que se o Tricolor já tivesse caído para a série B, da qual já estava muito próximo depois daquele sofrido primeiro tempo.

E cá entre nós, sampaulinos, foi quase hein?