sábado, 28 de maio de 2022


 

O CASO DA PRODUÇÃO DO PIANO STEINWAY

Quando apresentamos em nosso grupo das Reuniões Virtuais o processo de fabricação de pianos, com destaque para o Steinway & Sons, não conseguimos entender como era possível uma escala de fabricação tão grande, entre os modelos verticais, de cauda e de concerto. E com preços que podem chegar, nos modelos mais avançados, até a meio milhão de dólares. Lembram-se disso?

Mesmo sabendo que 98% dos concertos musicais utilizam esse piano, é difícil entender onde está esse mercado comprador que sustenta duas fabricas da Steinway no mundo, lideradas pela histórica fábrica de Hamburgo onde se produzem anualmente 600 pianos verticais (preço médio de € 30.000) e 3.000 pianos de cauda (preço de  pequeno a médio de € 65.000), e ainda pianos grandes para concerto a um preço médio de € 140.000.

Vamos lembrar que um Steinway é composto por mais de 12.000 peças diferentes, demora cerca de um ano para fazer um porque 80% do trabalho ainda é feito à mão. Após dois anos de secagem da madeira, os operários confeccionam um cinto feito com 20 camadas de madeira. Este cinto seca em cem dias e depois é montado com elementos de estabilização (estrutura de ferro fundido em que a assinatura Steinway é pintada à mão) para suportar as 20 toneladas de tensão geradas pelas cordas esticadas. As teclas, há muito em marfim, são em PVC desde 1989.

Eu fiz este resumo depois de constatar um fato curioso quando preparava minha apresentação sobre as obras de Debussy tocadas por grandes pianistas (sempre num Steinway, é claro). Chamou minha atenção o fato de que o “Duo Recital at the Old Church in Boswil”, foi realizado em 2019 nessa comunidade da Suiça (Boswil), com cerca de 3.000 habitantes, os quais não dispensavam um maravilhoso Steinway em sua sala de concerto!

Impossível pra quem gosta de matemática e de estatística não fazer rapidamente a conta: se cada 3.000 habitantes tivessem juntos um Steinway, quantos pianos desses haveriam no mundo? Bem, só sabemos  que não haveria fábricas e nem madeiras para saciar essa suposta demanda. Mas dá para começar a entender o sucesso daquelas duas maravilhosas linhas de produção.        

Então, se por um lado já é possível entender como são comercializados tantos pianos por ano na Europa e nos Estados Unidos, por outro lado, fica difícil aceitar como nós, latino-americanos, estamos tão longe, culturalmente, de tanta gente que habita esse nosso planeta, caracterizado pelos mais absurdos contrastes sociais, econômicos e culturais.