- SAUDOSISMO? FALA SÉRIO... -
Falando de infância, quando bebê eu ainda usava uma maldita peça de roupa, um pedaço de pano chamado cueiro. Lembro que minha mãe se orgulhava ao exibir meu irmão mais novo como um “charutinho seguro e bem agasalhado”. Ela nunca soube que só quarenta anos mais tarde consegui me livrar do tal cueiro, graças a algumas sessões de psicoterapia.
Minhas idas e voltas à escola, ainda no primário, nunca foram divertidas, eu era empurrado dentro de ônibus ou bondes e na volta, geralmente meu pai me apanhava, quase sempre depois de longa e solitária espera.
O respeito aos mais velhos era cláusula pétrea, e para evitar as inimagináveis consequências de uma violação, era melhor ficar calado e sempre que possível fugir deles. A outra regra de mesmo peso era “não mentir”. Então acreditávamos em Papai Noel porque mais velhos garantiam sua existência, provas disso é que o velhinho comia as guloseimas deixadas na véspera em um pratinho, o qual, no amanhecer do dia seguinte, estava sujinho dos restos, dá pra acreditar?
- Pai, esse Papai Noel existe mesmo? Ao que respondi:
- Claro que não, mas não diga isso para os menores, vamos manter essa mentirinha.
Seus olhos brilharam demonstrando aquela deliciosa sensação de que “já sou grande” e até “cúmplice do papai”.
A frase “péra aí mãe” não existia, a obediência era cega e surda. Na rua nem pensar, vizinhos sempre eram maus elementos. Lembro-me bem que expressão “moleque de rua” servia para evitar qualquer contato com desconhecidos - seriam todos marginais?
Bullying não existia?? Não com esse nome, porque eu era chamado de “4olho” até pelo professor de Educação Física, que jamais me escalava para os jogos. Poucos usavam óculos, mesmo os que tinham dificuldade para ler a lousa. Vejam hoje quantas crianças têm ótimos óculos e o usam até com o charme dos modelos mais modernos.
Almoço e jantar eram sim em família, mas só falavam os adultos, crianças não se metiam. Só quando eram perguntadas, quase sempre cobradas pelas notas de aritmética ou pelo comportamento num maldito boletim preparado sem o sagrado direito de defesa e do contraditório. O que? Questionar um professor? Nem pensar.
Mas eu me lembro que no terceiro ano primário uma professora estava explicando o movimento dos planetas no sistema solar, e isso eu achava o máximo, queria entender, prestava a maior atenção. Ela disse que o inverno era mais frio porque a Terra estava mais distante do sol e o verão mais quente porque mais próxima dele. Minha avó tinha ido para a Itália visitar seus parentes no inverno daqui “porque lá era verão”, me explicou vovó. Então perguntei à professora (que ainda não era “tia”) como isso era possível. Não me lembro bem o que ela disse, só sei que o episódio terminou na diretoria.
Hoje vejo netos felizes na van do colégio com seus amigos. Adoro conversar com eles que se interessam em saber coisas que eu gosto de explicar, só que eles, não raro, têm sempre mais coisas para me explicar - uma delícia ouvi-los.
Adorei ver meu bisneto de pouco mais de um aninho de vida escalar o sofá e, como um alpinista, galgar seu encosto e finalmente, num extremo alongamento corporal, acionar o interruptor e apresentar aquela cara de vitória ao acender a luz. Nem posso imaginar o quão maravilhosa deve ser essa sensação, aliás só disponível para alguém que nunca usou um cueiro!
A frase “péra aí mãe” não existia, a obediência era cega e surda. Na rua nem pensar, vizinhos sempre eram maus elementos. Lembro-me bem que expressão “moleque de rua” servia para evitar qualquer contato com desconhecidos - seriam todos marginais?
Bullying não existia?? Não com esse nome, porque eu era chamado de “4olho” até pelo professor de Educação Física, que jamais me escalava para os jogos. Poucos usavam óculos, mesmo os que tinham dificuldade para ler a lousa. Vejam hoje quantas crianças têm ótimos óculos e o usam até com o charme dos modelos mais modernos.
Almoço e jantar eram sim em família, mas só falavam os adultos, crianças não se metiam. Só quando eram perguntadas, quase sempre cobradas pelas notas de aritmética ou pelo comportamento num maldito boletim preparado sem o sagrado direito de defesa e do contraditório. O que? Questionar um professor? Nem pensar.
Mas eu me lembro que no terceiro ano primário uma professora estava explicando o movimento dos planetas no sistema solar, e isso eu achava o máximo, queria entender, prestava a maior atenção. Ela disse que o inverno era mais frio porque a Terra estava mais distante do sol e o verão mais quente porque mais próxima dele. Minha avó tinha ido para a Itália visitar seus parentes no inverno daqui “porque lá era verão”, me explicou vovó. Então perguntei à professora (que ainda não era “tia”) como isso era possível. Não me lembro bem o que ela disse, só sei que o episódio terminou na diretoria.
Hoje vejo netos felizes na van do colégio com seus amigos. Adoro conversar com eles que se interessam em saber coisas que eu gosto de explicar, só que eles, não raro, têm sempre mais coisas para me explicar - uma delícia ouvi-los.
Adorei ver meu bisneto de pouco mais de um aninho de vida escalar o sofá e, como um alpinista, galgar seu encosto e finalmente, num extremo alongamento corporal, acionar o interruptor e apresentar aquela cara de vitória ao acender a luz. Nem posso imaginar o quão maravilhosa deve ser essa sensação, aliás só disponível para alguém que nunca usou um cueiro!
E como é bom ver uma criança de dez anos mostrar como se pesquisa no Google e como se entra no Facebook para ver os vídeos do fim de semana de seus amigos, alguns da Dinamarca outros dos Estados Unidos ou da Itália!
Eu entendo que certamente muitos tiveram infância mais feliz do que a minha e, afinal, ter saudades não é crime. Por outro lado, glorificar o Ki-Suco, o Chá de Camomila ou o Biotônico Fontoura só mesmo para quem não faz a menor ideia de que, em pouco mais de quarenta anos, a mortalidade infantil foi reduzida em 76 por cento!
Eu entendo que certamente muitos tiveram infância mais feliz do que a minha e, afinal, ter saudades não é crime. Por outro lado, glorificar o Ki-Suco, o Chá de Camomila ou o Biotônico Fontoura só mesmo para quem não faz a menor ideia de que, em pouco mais de quarenta anos, a mortalidade infantil foi reduzida em 76 por cento!
Quem quiser que verifique e faça as contas de quantos bebês foram salvos por essa horrorosa modernidade. Fala sério... quanta coisa, felizmente, mudou nesses últimos tempos!