sábado, 14 de janeiro de 2023

SOBRE VÍCIOS DE LINGUAGEM


DUAS FORMAS EQUIVOCADAS 

Este texto é para quem gosta de tratar bem nosso idioma — afinal, ele também merece carinho. Vale como alerta para profissionais da palavra, falada ou escrita, e igualmente para quem assessora ou orienta comunicadores. Porque, convenhamos, se até o maestro erra o tempo, a orquestra desaba.

Depois do reinado do temido “a nível de...” (quem nunca?), chegou a onda dos gerúndios maratonistas: “vou estar fazendo”, “posso estar enviando” e por aí vai. Essa praga contaminou call centers, escritórios e até algumas Alexas bem-intencionadas, mas mal treinadas. 

Hoje quero falar de dois vícios recentes que se infiltraram em telejornais, rádios, entrevistas e até na boca de gente graúda, de quem se espera pelo menos um português, digamos, em dia com o dicionário.

O primeiro é o uso equivocado do termo assertividade. Não, não tem nada a ver com “acertar” (nem se escreve com “c”!). Vem do inglês to assert, que significa afirmar, asseverar, reivindicar. Por muito  tempo a assertividade circulou entre livros de autoajuda, consultórios de psicologia e palestras de RH — algumas das quais confesso já ter frequentado, e até conduzido.

Ser assertivo é ter a habilidade de se expressar de forma clara, direta e respeitosa, sem cair nem na agressividade nem na submissão. É saber dizer “sim” quando é sim, e “não” quando é não — e pronto. Nada de “médicos mais acertivos” ou “jogadores mais acertivos” para bater o pênalti. Isso simplesmente não existe em português.

O segundo vício é bem mais antigo: o uso abusado de literalmente. Esse advérbio quer dizer “ao pé da letra”, ponto final. Se digo que alguém estava “literalmente suando”, ótimo: suas glândulas estavam de fato em plena atividade. Mas quando alguém solta que “fulano está literalmente morto” após um dia de trabalho, aí o sentido foi para o beleléu. O sujeito pode até estar exausto, mas - esperamos todos - segue vivo.

O problema é que  o “literalmente” ganhou ares de intensificador chique, e assim virou vício. Repare como a pessoa estica a voz, franze a testa e dá aquele peso dramático, como se a palavra fosse um tempero gourmet da língua.

Vícios de linguagem são mais criativos do que novela das nove. Mas esses dois, estão em alta no mercado da má expressão e, confesso, me tiram do sério.

No fim das contas, a língua é como um bom terno: cai melhor quando ajustada. Erros acontecem, modismos passam, mas a elegância de falar (e escrever) com clareza nunca sai de moda. Então, sejamos literamente assertivos, com os dois "ss", e usemos o "literalmente" só quando for, de fato, o caso.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

DANIEL E O CINEMA


O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FILMES COMERCIAIS

 

1.    As AGÊNCIAS de propaganda atendem a empresas que as contratam, após concorrências através das quais analisam suas propostas, levando em conta criatividade, visão de clientes, qualidade técnica, experiência e certamente o custo do projeto. 

Uma vez contratado, o trabalho começa na escolha de Diretor e assistentes, criadores de StoryBoard, equipes técnicas de engenharia, som, imagem, fotografia, atores, serviços especiais, equipamentos de imagem e som como câmeras, lentes, microfones para som local e de estúdio, mixagem, masterização e pós-produção.

Hoje em dia a exibição é basicamente em vídeo, embora se saiba que o filme ainda tem melhor definição e que ainda tem seu lugar em casos especiais ou filmes de arte.

2.   EQUIPES   -   PESSOAL CONTRATADO

A maioria dos profissionais envolvidos nesse verdadeiro “circo” é de autônomos com CNPJ, mesmo aqueles que normalmente atuam numa mesma Agência, ou que fazem a parte comercial, financeira e jurídica, entre outras. Atores também são contratados além dos “doublés e dos “extras”. Mas o Diretor e suas equipes é que são os verdadeiros “artistas”.

3.    EQUIPAMENTOS ALUGADOS

A exigência de um trabalho profissional perfeito custa muito caro. Uma câmera é alugada por cerca de cinco mil reais por dia e cada lente (equipamento de vidro, mas precioso) custa outro tanto e, conforme o caso, são lentes e de diversos tipos e podem ser necessárias três, quatro ou mais para a filmagem de uma única cena.

4.    LOCAÇÕES

Locações são as áreas, os cenários, como paisagens naturais, casarios, prédios, clubes, hotéis, lugares especiais que podem ser alugados e até mesmo construídos para o fim específico da filmagem.

5.    SERVIÇOS ADICIONAIS

Também se faz a contratação de pessoas ou empresas que possuem e operam equipamentos para as cenas especiais, por exemplo, com animais, autos de diversos tipos, aviões e tudo que pode ser necessário para cumprir o projeto.    

O curioso desse item é que existem empresas ou grupos, geralmente familiares, especializados nesses serviços, desde os que oferecem cães amestrados como os que trabalham com insetos, borboletas, elefantes ou até aqueles que tem frotas para fazer corridas e acidentes de veículos, voos de asas delta, paraquedas, helicópteros, drones e também em situação marítimas com barcos, lanchas e esquis, ou ainda explosivos, armas, bombas e uma infinidade de outros serviços.

 

6.   AS DISTÂNCIAS

As Agências costumam ter filiais ou parceiras em mais de um país ou continente e isso se deve a possibilidade de rapidamente contar com locações para filmagem ou serviços especiais ou custos operacionais mais interessantes. Isso significa também que os profissionais do ramo estão em constantes e, muitas vezes, longas viagens.

O processo de filmagem é quase sempre acompanhado à distância pelo staff da Agência contratante e quase sempre pelo próprio cliente. Assim os “takes” são realizados por várias câmeras e assistidos ao vivo em qualquer canto do mundo.

Tudo isso foi o que eu consegui registrar de uma conversa deliciosa com meu neto.

 

7.   O CASO “EM TELA”

Alguns anos atrás, fui assistir Daniel Cirati, hoje com 27 anos, quando se diplomava em cinema pela ECA (USP), apresentando seu TCC durante cerca de uma hora. Terminada apresentação oral, ingenuamente perguntei se íamos em seguida ver o filme, ao que ele me respondeu: Vô, se vc. tiver aí uns 40 milhões nós podemos contratar a filmagem agora mesmo...

Em novembro de 2022, Daniel foi a Praga, como assistente de Diretor, onde juntou-se à equipe que filmaria um comercial, durante 4 semanas. Aliás essa deve ser sua última etapa para que, a seguir, já possa se sentar na célebre cadeira de encosto de pano (que já não deve ser mais assim...).

A agência que o contrata tem sua sede em Los Angeles e, enquanto escrevo este, a filmagem deve estar acontecendo na República Tcheca. As demais etapas, montagem, mixagem, pós-produção etc. ocorrerão em alguns outros locais, tudo com acompanhamento online.

 O filme deve ter em sua versão mais longa uma duração de dois ou três minutos. Na TV, geralmente são apresentadas versões mais curtas, de até trinta segundos. As mais longas serão apresentadas em lançamentos, congressos e outras atividades de marketing. 

O cliente no caso é Amazon Prime, que deve lançar algo parecido com os atuais e-books. A ideia vitoriosa na concorrência foi um tema visual de “escadas”, onde “figuras” vão subindo por cordas pelos vãos das próprias escadas. Se eu bem entendi, os tais sucedâneos dos e-books seriam as tais cordas, ou cabos, através das quais as pessoas poderão simbolicamente “subir” sem a necessidade de galgar penosamente degrau a degrau.

E não me perguntem mais porque eu ainda não sei! Mas espero assistir tão logo quanto possível a versão mais longa desse comercial da Amazon.