Este texto é para quem gosta de tratar bem nosso idioma — afinal, ele também merece carinho. Vale como alerta para profissionais da palavra, falada ou escrita, e igualmente para quem assessora ou orienta comunicadores. Porque, convenhamos, se até o maestro erra o tempo, a orquestra desaba.
Depois do reinado do temido “a nível de...” (quem nunca?), chegou a onda dos gerúndios maratonistas: “vou estar fazendo”, “posso estar enviando” e por aí vai. Essa praga contaminou call centers, escritórios e até algumas Alexas bem-intencionadas, mas mal treinadas.
Hoje quero falar de dois vícios recentes que se infiltraram em telejornais, rádios, entrevistas e até na boca de gente graúda, de quem se espera pelo menos um português, digamos, em dia com o dicionário.
O primeiro é o uso equivocado do termo assertividade. Não, não tem nada a ver com “acertar” (nem se escreve com “c”!). Vem do inglês to assert, que significa afirmar, asseverar, reivindicar. Por muito tempo a assertividade circulou entre livros de autoajuda, consultórios de psicologia e palestras de RH — algumas das quais confesso já ter frequentado, e até conduzido.
Ser assertivo é ter a habilidade de se expressar de forma clara, direta e respeitosa, sem cair nem na agressividade nem na submissão. É saber dizer “sim” quando é sim, e “não” quando é não — e pronto. Nada de “médicos mais acertivos” ou “jogadores mais acertivos” para bater o pênalti. Isso simplesmente não existe em português.
O segundo vício é bem mais antigo: o uso abusado de literalmente. Esse advérbio quer dizer “ao pé da letra”, ponto final. Se digo que alguém estava “literalmente suando”, ótimo: suas glândulas estavam de fato em plena atividade. Mas quando alguém solta que “fulano está literalmente morto” após um dia de trabalho, aí o sentido foi para o beleléu. O sujeito pode até estar exausto, mas - esperamos todos - segue vivo.
O problema é que o “literalmente” ganhou ares de intensificador chique, e assim virou vício. Repare como a pessoa estica a voz, franze a testa e dá aquele peso dramático, como se a palavra fosse um tempero gourmet da língua.
Vícios de linguagem são mais criativos do que novela das nove. Mas esses dois, estão em alta no mercado da má expressão e, confesso, me tiram do sério.
No fim das contas, a língua é como um bom terno: cai melhor quando ajustada. Erros acontecem, modismos passam, mas a elegância de falar (e escrever) com clareza nunca sai de moda. Então, sejamos literamente assertivos, com os dois "ss", e usemos o "literalmente" só quando for, de fato, o caso.