COISAS QUE APRENDI – E QUE FUNCIONAM
Nestas últimas décadas de vida (e não entendam últimas como “as finais”, mas como “as mais recentes”) e, por favor, não chamem a isso de “autoajuda” pois trata-se somente de coisas que aprendi e que serviram para mim; se servirem para vocês, adotem; se não, deletem!
A PRIMEIRA começa naquela máxima socrática:
Tudo o que sei é que nada sei.
Não é só porque ele disse, mas porque a experiência me mostrou que quanto mais eu me aprofundo ou me estendo em qualquer matéria, mais descubro que menos sei sobre ela, porque cada vez consigo perceber que ela é mais complexa do que eu imaginava!
Então a continuar assim, chegará o dia que não saberei nada? Ou então, em assimilando essa ideia, serei eu um sábio? Afinal tratar-se-á de uma falácia, de uma dissonância cognitiva ou, ao contrário, de uma grande arrogância?
Não sou filósofo e por isso não tenho respostas para essas questões; só sei que essa postura me poupou de muitas situações de “saia justa” ou até de consequências trágicas. Então aprendi que antes de afirmar, contestar ou empreender convém observar, especular, meditar sobre as consequências do que se pretende dizer ou fazer.
A SEGUNDA que aprendi foi:
compreender o que é a tal da “narrativa”,
palavra que embora antiga, ganhou um novo significado e muito espaço, principalmente na política dos dias de hoje. Eu adorei isso porque passei a ouvir as narrativas não como verdades absolutas, nem mesmo como opiniões pessoais, mas simplesmente como elas são, a saber, simplesmente narrativas.
O melhor exemplo é o do discurso dos advogados de defesa e de acusação ao se referirem a um mesmo réu cujo suposto crime foi avaliado e consta de um vasto relatório técnico-científico que ouviu testemunhas, pesquisou cada movimento no espaço e no tempo, pôs no microscópio o sangue espirrado, a fibra do osso quebrado, o resíduo no sapato e comparou o DNA de um fio de cabelo.
Então a ciência colocou um ponto final nas dúvidas e nosso “marciano” respirou aliviado, certo? Errado. Tudo isso são fatos que o tal “marciano” não consegue compreender porque, para esse suposto ser de um outro planeta só existe o certo e o errado, as verdades ou as mentiras. Roubou ou não roubou, matou ou não matou. Foi assim que cada um de nós também aprendeu na escola, na família, na propaganda religiosa e comercial. Portanto é compreensível que tenhamos muita dificuldade em aceitar algo tão discrepante da nossa “lógica marciana”.
Perguntar-me-ão (e lá vou eu de novo com minhas mesóclises) os leitores justificadamente curiosos: “E qual foi o aprendizado que você extraiu daí?” Responderei instantaneamente, seguro de minha convicção: Fácil, ora! Basta esquecer essa coisa que chamam de “verdade”, ou então, em outras palavras, aprender a “dormir com um barulho desses”. Pensará o leitor: “Então não posso ter a minha opinião? Claro que sim! Mas jamais se esquecendo de que, apesar de sua, é apenas uma opinião. Crie sua própria narrativa, se tiver interesse em tentar prová-la, mas saiba que isso costuma resultar em uma grande perda de tempo, nada mais além disto.
A TERCEIRA é que, se em algum projeto ou atitude assumida a coisa não funcionou ou não resultou no esperado,
aprendi a procurar onde eu falhei, mesmo se isso dependesse da participação de outros.
E sabem por que? Porque se eu gastar um mínimo que seja de energia para culpar quem errou (ou quem eu julguei ter errado), eu estarei desperdiçando meu tempo. Mas se eu achar algum erro - mesmo que pequeno - naquilo que eu fiz ou deixei de fazer, eu posso corrigir ou pelo menos procurar evitá-lo da próxima vez e lograr algum sucesso.
Essa parte ficou um tanto sem graça, mas o aprendizado nem sempre é engraçado.
A QUARTA lição, que a vida fez a gentileza de me ensinar, vem de um ditado da cultura portuguesa que reza:
“não sejas mais realista do que o rei”.
Isso significa defender uma causa com mais ênfase, esforço ou dedicação do que faria o próprio rei, ou seja, o maior interessado nela.
Há muitas histórias de chefes que dão uma determinada ordem ou estipulam algumas regras para, num momento seguinte ordenar a um subordinado que faça algo que as contrarie. Se esse subordinando questionar (ou não obedecer, porque se trata de infringir uma regra que o próprio chefe criou) pode se preparar para uma encrenca totalmente desnecessária.
E o que fazer então? Só posso sugerir algo como isto: Olhar com firmeza para o chefe durante três segundos e, em não havendo outra manifestação por parte dele, comentar alegremente:
OK boss, você manda!
A QUINTA trata de uma palavra em geral muito mal compreendida:
a “ACEITAÇÃO”.
Eu começaria por esclarecer que aceitação é muito de diferente de conformismo.
Você pode não gostar ou não ter desejado que aquilo estivesse ocorrendo, mas se quiser fazer qualquer coisa a respeito, a primeira etapa é aceitar.
Aceitar que existe, aceitar que incomoda, aceitar que não gosta. Se for o caso, aguardar um momento mais favorável, ou preparar-se melhor para o combate. Tem um outro termo que era quase desconhecido e que ganhou enorme espaço hoje em dia: “resiliência”. Trata-se de uma propriedade de quem aceita um golpe e se recupera rapidamente, ou seja, a velha expressão “verga, mas não quebra”. Como num jogo no qual você aceita perder momentaneamente para não se desgastar antes da hora, ou perder no primeiro instante para buscar a vitória mais adiante. Lembre-se de outro velho ditado que ensina “ri melhor quem ri por último”.
E isso também tem outro nome: chama-se Paciência, qualidade que alguém já definiu como “A virtude dos deuses”, que embora muito longe de ser nosso caso, pode ser um ótimo exercício.
A SEXTA lição deixei mais para o fim porque esta lista não segue a lógica da prioridade (aliás, não segue lógica alguma) mas deriva da minha enorme dificuldade de lidar com ela. Refiro-me ao
Imediatismo
Acreditem, é uma luta diária, incessante e com resultados aquém do desejável. A pressa é uma m..., acreditem. Atravessem correndo, uma avenida com seis faixas de tráfego e, se sobreviverem, contem-me... E como acontecem situações na vida em que nos vemos exatamente confirmando essa metáfora!
A SÉTIMA é sobre ser feliz.
Tenho até dúvidas sobre como abordar este tópico porque sobre ele há tantas falas, vídeos, imagens e “memes” correndo pelas redes sociais e me deixam receoso de estar “chovendo no molhado”; então “saio pela tangente” e digo:
Seja feliz do jeito que você achar melhor.
Mas é bom achar logo esse jeito, e que seja um jeito realmente bom, viu?
Aí foram são as principais. Depois conto mais algumas outras que também me ajudaram bastante e, para quem gosta das velhas regrinhas, aí vão estas sete primeiras:
1. TUDO QUE SEI É QUE NADA SEI.
2. SE NÃO DEU CERTO, VAMOS DESCOBRIR ONDE ERRAMOS.
3. NÃO HÁ VERDADES SIMPLES, QUASE TUDO É UMA NARRATIVA.
4. NÃO SEJAMOS MAIS REALISTAS DO QUE O REI.
5. PRATIQUEMOS A ACEITAÇÃO.
6. CONTROLEMOS A PRESSA.
7. SEJAMOS FELIZES - ISSO DEPENDE SÓ DE NÓS.