sábado, 29 de abril de 2023

 

A I.A. E A GUERRA DOS NAVEGADORES

 

Tudo começou no grupo de nossas reuniões virtuais quando comentamos algo sobre
Inteligência Artificial. O desenvolvimento dessa área de estudo começou logo após a Segunda Guerra Mundial, com um artigo do matemático inglês Alan Touring, falecido em 1954. O nome “Inteligência Artificial” foi cunhado dois anos após. Mas o que é exatamente Inteligência Artificial?

Bem, nada é “exatamente”, mas entre tantas outras, a melhor definição que eu encontrei foi a seguinte: “A Inteligência Artificial (IA) é o estudo de como fazer os computadores realizarem
tarefas para as quais, no momento, as pessoas ainda são melhores.”

O que já se sabe é que o assunto já estava na agenda da informática em meados do século XX, ganhou força e popularidade depois do início da Internet nos anos 90, e disparou próximo da virada para o XXI quando a Google lançou seu mecanismo de pesquisa prometendo atropelar as tentativas de outras empresas do ramo, inclusive da Microsoft que já tinha seu buscador, o Altavista.

Hoje a Google tem a plataforma de acesso a dados mais poderosa que já existiu e, no seu encalço está a Bing da Microsoft, que não se conforma com a perda de protagonismo, nem de seu buscador e nem de seu navegador, o Edge, uma vez que o Chrome, da Google, é de longe o preferido. No Brasil sua utilização supera os 90% dos usuários de computador, embora não seja bem assim em outros países.

Isso sem falar da China, onde o rei da busca é o Baidu, e a dupla Bing e Google se arrasta perto dos 5%. O Bing tem maior relevância nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, mas mesmo em solo norte-americano sua participação não chega aos 10%.

A Microsoft, sendo campeã na preferência de seu sistema operacional Windows, em comparação ao macOS da Apple, faz de tudo para que os usuários do Windows coloquem o Edge como seu navegador principal, até agora sem muito sucesso. Entretanto, atualmente, manter o Chrome como navegador preferido pode até ser um problema para os menos atentos, tal o assédio da MS.     

Hoje ao ligar meu notebook, antes mesmo de digitar o Pin de acesso ao Windows, reparo na nova e bela tela de fundo um discreto e convidativo link para “saber mais sobre o tema”, que eu, dessa vez aceitei. Veio então um Bing de roupa nova, informando sobre suas maravilhas, incluindo a expressão “O Bing é alimentado por IA...” e blá, blá, blá. Isso porque é sobre Inteligência Artificial que todos querem saber mais.

Vamos lembrar que no apagar das luzes do sec. XX, a MS entrou de salto alto, achando que a seria a dona da Internet e Bill Gates perdeu de goleada para a time da Google. Hoje, seus sucessores inconformados, querem virar o jogo ainda nesse segundo decênio do tumultuado XXI. Quem viver verá.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 
UM EXEMPLO ATUAL DO QUE PODE FAZER A I.A.


O sudoku é um jogo em que o objetivo é preencher cada linha, coluna e seção de 3x3 com números de 1 a 9, sem repetição de números. É um jogo divertido e desafiador, que estimula a memória e a lógica. Para adultos em idade avançada e aposentados, o sudoku pode ser uma excelente forma de manter as habilidades cognitivas aguçadas enquanto passam o tempo de forma divertida. Neste artigo, vamos discutir como o sudoku pode ser um ótimo passatempo para adultos em idade avançada e aposentados.

1. Por que o sudoku é importante para adultos em idade avançada e aposentados?

O sudoku é um jogo de lógica divertido que pode ser jogado por qualquer pessoa, mas pode ser especialmente útil para adultos em idade avançada e aposentados. É uma ótima maneira de estimular o cérebro e manter a mente ativa enquanto se diverte. Ele também oferece aos jogadores a oportunidade de desenvolver habilidades práticas, como raciocínio lógico, tomada de decisão e resolução de problemas, que podem ser úteis em outras áreas da vida. Além disso, o jogo é gratuito e fácil de aprender, tornando-se uma excelente opção para aqueles que procuram passar o tempo de forma produtiva sem gastar muito dinheiro.

2. Benefícios do sudoku para a saúde mental

O sudoku é conhecido por proporcionar benefícios à saúde mental dos jogadores. O jogo requer que os jogadores usam suas habilidades analíticas e pensamento crítico para encontrar as soluções corretas, o que pode estimular os neurônios existentes e reduzir as chances de desenvolver doenças relacionadas à idade, como demência e Alzheimer. Além disso, o desafio oferecido pelo jogo pode fornecer um senso de realização e propósito que pode melhorar a autoestima dos jogadores. Por fim, jogar sudoku regularmente pode ser uma ótima maneira de relaxar e reduzir o estresse, principalmente entre aqueles que não têm muitas outras opções de entretenimento em sua rotina diária.

3. Como começar a jogar sudoku

Jogar sudoku é muito simples e não leva muito tempo para dominar. Para começar, os jogadores precisam apenas adquirir um tabuleiro pronto ou imprimir um online. O tabuleiro inclui instruções sobre como preencher as células com números de 1 a 9 sem repetir nenhum número na mesma linha, coluna ou caixa 3x3. Depois disso, basta preencher cada célula com os números corretos usando lógica e dedução. Jogadores experientes podem optar por comprar livros de desafios progressivamente mais difíceis para praticarem seus habilidades.

4. Dicas e truques para jogar sudoku

Embora o sudoku possa ser um jogo divertido para todos os níveis de habilidade, aqueles que estão começando podem ter dificuldade em encontrar as soluções corretas. Uma boa dica para os iniciantes é começar com puzzles mais fáceis primeiro e trabalhar seu caminho até os desafios mais difíceis com o tempo. Outra dica útil é marcar as células com possibilidades eliminando aquelas que não são válidas para determinada posição no tabuleiro. Isso permite que os jogadores fiquem concentrados nos principais elementos do jogo sem se sentirem sobrecarregados. Por fim, os jogadores podem buscar tutoriais online ou assistir a tutoriais em vídeo para obter informações adicionais sobre como completar puzzles mais difíceis.

5. Receitas de sudoku para adultos em idade avançada e aposentados

Existem muitas versões diferentes do jogo Sudoku disponíveis hoje em dia, incluindo versões especialmente projetadas para adultos em idade avançada e aposentados. Estas versões normalmente envolvem puzzles menos complexos do que as versões padrão do jogo, mas isso não significa que elas sejam menos desafiadoras ou divertidas de se jogar! Existem também alguns sites online especializados em Sudoku para adultos em idade avançada e aposentados que oferecem puzzles personalizados baseados nas preferências dos jogadores. Alguns destes sites também oferecem tutoriais interativos gratuitos para ajudar os jogadores a aprender todos os aspectos do jogo antes mesmo de começarem a jogar.

O sudoku é uma ótima maneira de estimular os adultos em idade avançada e aposentados a manter-se mentalmente ativos. É um passatempo divertido que promove o crescimento da memória, a capacidade de resolver problemas e a capacidade de pensar logicamente. Além disso, pode ajudar a reduzir o estresse e melhorar o humor geral. Com tudo isso em mente, o sudoku é definitivamente uma ótima escolha para aqueles que buscam desafios intelectuais e entretenimento duradouro. 

sábado, 14 de janeiro de 2023

SOBRE VÍCIOS DE LINGUAGEM


DUAS FORMAS EQUIVOCADAS 

 

Este texto pretente ajudar pessoas que procuram buscam usar nosso idioma sempre de forma correta, e também faz um alerta aos que fazem uso da linguagem, escrita ou falada, como importante ferramenta de trabalho e, principalmente, chama a atenção dos que dirigem ou assessoram profissionais da comunicação.   

Depois do reinado do “a nível de...”, acho que todos se lembram disso, vieram os gerúndios compostos do tipo “vou estar fazendo“, “posso estar enviando” – formas que contaminaram os serviços de atendimento ao cliente e até mesmo algumas IAs da vida moderna.         

Vou me referir a dois equívocos que, de uma hora para outra, surgiram com força entre apresentadores de jornais de rádio e televisão, comentaristas, e mesmos personagens de algum prestígio quando entrevistados, mesmo aqueles dos quais se espera uma fala pelo menos semanticamente correta.

O primeiro é sobre o termo “assertividade” que nada tem a ver com a palavra “acerto” e nem mesmo se escreve com a letra “c”, mas decorre do verbo em inglês “to assert” que significa afirmar, asseverar e, em certos contextos, pode até significar “reclamar” ou “reivindicar”. Essa palavra frequentou os livros de autoajuda, as clínicas de psicologia e os seminários de RH, de muitos dos quais eu participei e alguns até conduzi.

Assertividade é a “habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito e o respeito a outras pessoas. A postura assertiva é uma virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão). Ser assertivo é dizer "sim" e "não" quando cada umas dessas expressões se fizerem necessárias”. Essa definição está no Dicio, o Dicionário Online de Português, e não é muito diferente daquela que estudei, divulguei e ensinei em vinte anos de trabalhos na área da comunicação interpessoal.

Ninguém toma decisões mais “acertivas”, nem procura médicos mais “acertivos”. Não existem hipóteses mais nem menos “acertivas” e de maneira alguma se indica jogadores mais “acertivos” para cobrar pênaltis! Tudo isso por uma razão muito simples: não existe em português o adjetivo “acertivo” assim com a letra "c".  

Outra falha, essa bem mais antiga, vem sendo observada com certa frequência, que é a do uso inapropriado do advérbio “literalmente”, o qual estabelece um entendimento “ao pé da letra” da expressão aplicada na frase.  Ajuda entender quando o próprio "Dicio" dá como antônimos de "literalmente" os termos “figurativamente” e “metaforicamente”. Dizer que “fulano estava literalmente suando” quer dizer que suas glândulas sudoríparas estavam em visível atividade – e só nesse caso aquele advérbio faria algum sentido. Mas, se ao término do trabalho alguém disser: “Ele agora deve estar literalmente morto!”, estaria usando essa expressão com sentido exatamente oposto ao desejado, pois na verdade, ele está só "metaforicamente" morto.

Mas como a palavra, em sua elegância, parece conferir um sentido superlativo ao que se deseja expressar, seu uso equivocado se propagou. É interessante perceber também a ênfase dada à palavra “literalmente”, tanto no tom de voz como na expressão facial.

Obviamente não pretendo aqui esgotar o tema dos vícios de linguagem, muito longe disso, mas citar esses dois exemplos porque estão na moda e são os que mais me incomodam. Problema meu, é verdade, porém escrevendo isso me sinto com mais um dever civil cumprido, e convido a todos a repassarem o texto, sem nenhuma obrigação de citar a fonte.  

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

DANIEL E O CINEMA


O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FILMES COMERCIAIS

 

1.    As AGÊNCIAS de propaganda atendem a empresas que as contratam, após concorrências através das quais analisam suas propostas, levando em conta criatividade, visão de clientes, qualidade técnica, experiência e certamente o custo do projeto. 

Uma vez contratado, o trabalho começa na escolha de Diretor e assistentes, criadores de StoryBoard, equipes técnicas de engenharia, som, imagem, fotografia, atores, serviços especiais, equipamentos de imagem e som como câmeras, lentes, microfones para som local e de estúdio, mixagem, masterização e pós-produção.

Hoje em dia a exibição é basicamente em vídeo, embora se saiba que o filme ainda tem melhor definição e que ainda tem seu lugar em casos especiais ou filmes de arte.

2.   EQUIPES   -   PESSOAL CONTRATADO

A maioria dos profissionais envolvidos nesse verdadeiro “circo” é de autônomos com CNPJ, mesmo aqueles que normalmente atuam numa mesma Agência, ou que fazem a parte comercial, financeira e jurídica, entre outras. Atores também são contratados além dos “doublés e dos “extras”. Mas o Diretor e suas equipes é que são os verdadeiros “artistas”.

3.    EQUIPAMENTOS ALUGADOS

A exigência de um trabalho profissional perfeito custa muito caro. Uma câmera é alugada por cerca de cinco mil reais por dia e cada lente (equipamento de vidro, mas precioso) custa outro tanto e, conforme o caso, são lentes e de diversos tipos e podem ser necessárias três, quatro ou mais para a filmagem de uma única cena.

4.    LOCAÇÕES

Locações são as áreas, os cenários, como paisagens naturais, casarios, prédios, clubes, hotéis, lugares especiais que podem ser alugados e até mesmo construídos para o fim específico da filmagem.

5.    SERVIÇOS ADICIONAIS

Também se faz a contratação de pessoas ou empresas que possuem e operam equipamentos para as cenas especiais, por exemplo, com animais, autos de diversos tipos, aviões e tudo que pode ser necessário para cumprir o projeto.    

O curioso desse item é que existem empresas ou grupos, geralmente familiares, especializados nesses serviços, desde os que oferecem cães amestrados como os que trabalham com insetos, borboletas, elefantes ou até aqueles que tem frotas para fazer corridas e acidentes de veículos, voos de asas delta, paraquedas, helicópteros, drones e também em situação marítimas com barcos, lanchas e esquis, ou ainda explosivos, armas, bombas e uma infinidade de outros serviços.

 

6.   AS DISTÂNCIAS

As Agências costumam ter filiais ou parceiras em mais de um país ou continente e isso se deve a possibilidade de rapidamente contar com locações para filmagem ou serviços especiais ou custos operacionais mais interessantes. Isso significa também que os profissionais do ramo estão em constantes e, muitas vezes, longas viagens.

O processo de filmagem é quase sempre acompanhado à distância pelo staff da Agência contratante e quase sempre pelo próprio cliente. Assim os “takes” são realizados por várias câmeras e assistidos ao vivo em qualquer canto do mundo.

Tudo isso foi o que eu consegui registrar de uma conversa deliciosa com meu neto.

 

7.   O CASO “EM TELA”

Alguns anos atrás, fui assistir Daniel Cirati, hoje com 27 anos, quando se diplomava em cinema pela ECA (USP), apresentando seu TCC durante cerca de uma hora. Terminada apresentação oral, ingenuamente perguntei se íamos em seguida ver o filme, ao que ele me respondeu: Vô, se vc. tiver aí uns 40 milhões nós podemos contratar a filmagem agora mesmo...

Em novembro de 2022, Daniel foi a Praga, como assistente de Diretor, onde juntou-se à equipe que filmaria um comercial, durante 4 semanas. Aliás essa deve ser sua última etapa para que, a seguir, já possa se sentar na célebre cadeira de encosto de pano (que já não deve ser mais assim...).

A agência que o contrata tem sua sede em Los Angeles e, enquanto escrevo este, a filmagem deve estar acontecendo na República Tcheca. As demais etapas, montagem, mixagem, pós-produção etc. ocorrerão em alguns outros locais, tudo com acompanhamento online.

 O filme deve ter em sua versão mais longa uma duração de dois ou três minutos. Na TV, geralmente são apresentadas versões mais curtas, de até trinta segundos. As mais longas serão apresentadas em lançamentos, congressos e outras atividades de marketing. 

O cliente no caso é Amazon Prime, que deve lançar algo parecido com os atuais e-books. A ideia vitoriosa na concorrência foi um tema visual de “escadas”, onde “figuras” vão subindo por cordas pelos vãos das próprias escadas. Se eu bem entendi, os tais sucedâneos dos e-books seriam as tais cordas, ou cabos, através das quais as pessoas poderão simbolicamente “subir” sem a necessidade de galgar penosamente degrau a degrau.

E não me perguntem mais porque eu ainda não sei! Mas espero assistir tão logo quanto possível a versão mais longa desse comercial da Amazon.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

 

BARKER E OS STEINWAYS

 

Meu professor acaba de postar em seu Instagram algo que lembrou a apresentação que fiz sobre os famosos pianos Steinway e Sons e ainda revelou o sucesso que o meu querido Antonio Barker vem obtendo como músico, pianista e maestro, sediado no Toriba Hotel de Campos de Jordão.

Campos, como se sabe, tem sido um foco bem interessante da música em nosso país, basta lembrar do destaque internacional que os Festivais de Inverno anualmente alcançam.

Barker, como professor, levou-me ao país das cifras, dominado pelos autores e intérpretes da música popular, brasileira e internacional. Mais do que isso, foi ele que me conduziu por um caminho seguro para a prática do piano na área do Jazz, da Bossanova e outras gêneros e estilos musicais.

As apresentações às quais me referi, ocorrem às quartas-feiras nas Reuniões Virtuais do nosso Mack 62 conduzidas por mim e mais dois antigos colegas que consideramos parceiros nessa gostosa atividade.  

Voltando à postagem inicialmente citada, que a seguir repasso, vejo lá também e, como sempre me surpreendendo, os dotes literários desse meu professor, até então por mim desconhecidos.

Primeiro, no início deste ano, chegou esta poltrona rotativa, com regulagem de altura fabricada no início do século passado, decorada com uma lira e com diversos motivos em metal dourado no seu corpo... Passei a usá-la nas apresentações do ToribaMusical, porém ela, em madeira envernizada, parecia não formar um par perfeito com o maravilhoso Steinway & Sons, tal e qual a letra de "Caminhos Cruzados" (Tom Jobim), "Quando um coração que está cansado de sofrer encontra um coração também cansado de sofrer"

Um outro piano Steinway & Sons, dono único, pouquíssimo usado, 100% original, com 110 anos de idade soando como absolutamente novo e também ornamentado com uma lira no suporte dos pedais, outra no suporte de partituras, além de motivos decorativos em metal dourado ao longo de seu corpo e pés, chegou milagrosamente na quarta feira, para formar o par perfeito que ela tanto aguardava.

Somente Deus pode essas coisas!

‘Grazie a Dio'


sábado, 28 de maio de 2022


 

O CASO DA PRODUÇÃO DO PIANO STEINWAY

Quando apresentamos em nosso grupo das Reuniões Virtuais o processo de fabricação de pianos, com destaque para o Steinway & Sons, não conseguimos entender como era possível uma escala de fabricação tão grande, entre os modelos verticais, de cauda e de concerto. E com preços que podem chegar, nos modelos mais avançados, até a meio milhão de dólares. Lembram-se disso?

Mesmo sabendo que 98% dos concertos musicais utilizam esse piano, é difícil entender onde está esse mercado comprador que sustenta duas fabricas da Steinway no mundo, lideradas pela histórica fábrica de Hamburgo onde se produzem anualmente 600 pianos verticais (preço médio de € 30.000) e 3.000 pianos de cauda (preço de  pequeno a médio de € 65.000), e ainda pianos grandes para concerto a um preço médio de € 140.000.

Vamos lembrar que um Steinway é composto por mais de 12.000 peças diferentes, demora cerca de um ano para fazer um porque 80% do trabalho ainda é feito à mão. Após dois anos de secagem da madeira, os operários confeccionam um cinto feito com 20 camadas de madeira. Este cinto seca em cem dias e depois é montado com elementos de estabilização (estrutura de ferro fundido em que a assinatura Steinway é pintada à mão) para suportar as 20 toneladas de tensão geradas pelas cordas esticadas. As teclas, há muito em marfim, são em PVC desde 1989.

Eu fiz este resumo depois de constatar um fato curioso quando preparava minha apresentação sobre as obras de Debussy tocadas por grandes pianistas (sempre num Steinway, é claro). Chamou minha atenção o fato de que o “Duo Recital at the Old Church in Boswil”, foi realizado em 2019 nessa comunidade da Suiça (Boswil), com cerca de 3.000 habitantes, os quais não dispensavam um maravilhoso Steinway em sua sala de concerto!

Impossível pra quem gosta de matemática e de estatística não fazer rapidamente a conta: se cada 3.000 habitantes tivessem juntos um Steinway, quantos pianos desses haveriam no mundo? Bem, só sabemos  que não haveria fábricas e nem madeiras para saciar essa suposta demanda. Mas dá para começar a entender o sucesso daquelas duas maravilhosas linhas de produção.        

Então, se por um lado já é possível entender como são comercializados tantos pianos por ano na Europa e nos Estados Unidos, por outro lado, fica difícil aceitar como nós, latino-americanos, estamos tão longe, culturalmente, de tanta gente que habita esse nosso planeta, caracterizado pelos mais absurdos contrastes sociais, econômicos e culturais.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A ASSERTIVIDADE


Era novembro de 2021, domingo, eu assistindo meu pobre time apanhar feio. No intervalo do jogo, mudo de canal ouço comentário sobre um tal sistema de algoritmos para pesquisas, desenvolvido para melhorar a “assertividade dos resultados”.

Tenho visto e ouvido com certa frequência esse uso terrivelmente impróprio da palavra “Assertividade” a qual, anos atrás, só frequentava as clínicas de psicoterapia e os livros de autoajuda, mas agora está na moda e povoa o linguajar dos jornalistas.

Como se sabe, “assertividade” nada tem a ver com a palavra “acerto”, nem mesmo se escreve com a letra “c”. Ela deriva do verbo em inglês “to assert”, também com dois “ss” e significa afirmar, asseverar e, até mesmo em certos contextos, pode significar “reclamar” ou “reivindicar”.

Tecnicamente ASSERTIVIDADE é a “habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito e o respeito a outras pessoas. A postura assertiva é uma virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão). Ser assertivo é dizer "sim" e "não" quando cada umas dessas expressões forem necessárias”.

Essa uma boa definição que está na Dicio, o Dicionário Online de Português, para quem queira verificar, e não é muito diferente daquela que estudei, divulguei e ensinei em vinte anos de trabalhos na área da comunicação interpessoal.

Anos atrás, quando escrevia uma coluna semanal para um jornal, enviei um texto com o título “A ASSERTIVIDADE”. O editor do jornal gostou e mandou publicar recomendando “título em destaque”, e assim foi feito. Dias após, ao abrir o hebdomanário, deparei com meu texto com o destaque ganho em tipos graúdos e negrito: “A ACERTIVIDADE”, isso mesmo, escrito com um “C”.

É possível que para muitos isso tenha passado despercebido, ou tenha sido considerado sem importância, mas para quem estudou, divulgou e usou essa expressão tantas vezes em suas palestras, explicando o conceito, dando exemplos, fazendo exercícios e avaliações, não foi o que aconteceu. A visão daquele estúpido “C” produziu em meu cerebelo uma hecatombe de ódio, indignação e inconformismo.

E não havia mais o que fazer, o jornal já estava no café da manhã de todos os leitores da cidade, era aquela sensação de "não poder mais para apagar a mensagem depois de enviada!"  

Naquela situação não fui nada assertivo, pelo contrário, extrapolei todos os limites da minha assertividade. Passei a mão no telefone (expressão velha essa, hein?) e vociferei poucas e boas ao infeliz que atendeu minha ligação. Foi tudo o que pude fazer.

Alguns amigos tentaram me conformar, afinal foi só uma letra, diziam. Que fosse só uma vírgula, e vocês sabem que diferença pode fazer uma vírgula numa frase, que dizer de um hexassílabo em letras garrafais! 
Para mim foi como um Morumbi lotado que me vaiava contínua e ensurdecedoramente. E nesse tipo de jogo não interessa de quem foi a falta, ou mesmo se houve falta, o resultado foi um desastre pior do que se o Tricolor já tivesse caído para a série B, da qual já estava muito próximo depois daquele sofrido primeiro tempo.

E cá entre nós, sampaulinos, foi quase hein? 







segunda-feira, 12 de julho de 2021

 

- SAUDOSISMO? FALA SÉRIO... -



Confesso que textos que surgem em meus aplicativos de conversas, endeusando valores, métodos e hábitos do passado e, pior, demonizando mudanças, deixam minhas vísceras arrepiadas, levando-me, muitas vezes a atos de quase vandalismo contra a preciosa e inocente tecla Del. Mas desta vez o desejo de escrever de volta prevaleceu sobre a violência e eu acedi, evitando mais um ataque daqueles.

Falando de infância, quando bebê eu ainda usava uma maldita peça de roupa, um pedaço de pano chamado cueiro. Lembro que minha mãe se orgulhava ao exibir meu irmão mais novo como um “charutinho seguro e bem agasalhado”. Ela nunca soube que só quarenta anos mais tarde consegui me livrar do tal cueiro, graças a algumas sessões de psicoterapia.

Minhas idas e voltas à escola, ainda no primário, nunca foram divertidas, eu era empurrado dentro de ônibus ou bondes e na volta, geralmente meu pai me apanhava, quase sempre depois de longa e solitária espera.

O respeito aos mais velhos era cláusula pétrea, e para evitar as inimagináveis consequências de uma violação, era melhor ficar calado e sempre que possível fugir deles. A outra regra de mesmo peso era “não mentir”. Então acreditávamos em Papai Noel porque mais velhos garantiam sua existência, provas disso é que o velhinho comia as guloseimas deixadas na véspera em um pratinho, o qual, no amanhecer do dia seguinte, estava sujinho dos restos, dá pra acreditar?

Uma vez meu filho mais velho, ainda com seus seis anos, chegou bem perto e me perguntou quase em segredo:
- Pai, esse Papai Noel existe mesmo? Ao que respondi:
- Claro que não, mas não diga isso para os menores, vamos manter essa mentirinha.
Seus olhos brilharam demonstrando aquela deliciosa sensação de que “já sou grande” e até “cúmplice do papai”.  

A frase “péra aí mãe” não existia, a obediência era cega e surda. Na rua nem pensar, vizinhos sempre eram maus elementos. Lembro-me bem que expressão “moleque de rua” servia para evitar qualquer contato com desconhecidos - seriam todos marginais?

Bullying não existia?? Não com esse nome, porque eu era chamado de “4olho” até pelo professor de Educação Física, que jamais me escalava para os jogos. Poucos usavam óculos, mesmo os que tinham dificuldade para ler a lousa. Vejam hoje quantas crianças têm ótimos óculos e o usam até com o charme dos modelos mais modernos.

Almoço e jantar eram sim em família, mas só falavam os adultos, crianças não se metiam. Só quando eram perguntadas, quase sempre cobradas pelas notas de aritmética ou pelo comportamento num maldito boletim preparado sem o sagrado direito de defesa e do contraditório. O que? Questionar um professor? Nem pensar.

Mas eu me lembro que no terceiro ano primário uma professora estava explicando o movimento dos planetas no sistema solar, e isso eu achava o máximo, queria entender, prestava a maior atenção. Ela disse que o inverno era mais frio porque a Terra estava mais distante do sol e o verão mais quente porque mais próxima dele. Minha avó tinha ido para a Itália visitar seus parentes no inverno daqui “porque lá era verão”, me explicou vovó. Então perguntei à professora (que ainda não era “tia”) como isso era possível. Não me lembro bem o que ela disse, só sei que o episódio terminou na diretoria.

Hoje vejo netos felizes na van do colégio com seus amigos. Adoro conversar com eles que se interessam em saber coisas que eu gosto de explicar, só que eles, não raro, têm sempre mais coisas para me explicar - uma delícia ouvi-los.

Adorei ver meu bisneto de pouco mais de um aninho de vida escalar o sofá e, como um alpinista, galgar seu encosto e finalmente, num extremo alongamento corporal, acionar o interruptor e apresentar aquela cara de vitória ao acender a luz. Nem posso imaginar o quão maravilhosa deve ser essa sensação, aliás só disponível para alguém que nunca usou um cueiro! 


E como é bom ver uma criança de dez anos mostrar como se pesquisa no Google e como se entra no Facebook para ver os vídeos do fim de semana de seus amigos, alguns da Dinamarca outros dos Estados Unidos ou da Itália!

Eu entendo que certamente muitos tiveram infância mais feliz do que a minha e, afinal, ter saudades não é crime. Por outro lado, glorificar o Ki-Suco, o Chá de Camomila ou o Biotônico Fontoura só mesmo para quem não faz a menor ideia de que, em pouco mais de quarenta anos, a mortalidade infantil foi reduzida em 76 por cento! 

Quem quiser que verifique e faça as contas de quantos bebês foram salvos por essa horrorosa   modernidade. Fala sério...  quanta coisa, felizmente,  mudou nesses últimos tempos!

quarta-feira, 5 de maio de 2021



- EU E A NESPEREIRA -


Conto esta história a partir de uma das mais importantes, ricas e proveitosas decisões que tomei em minha vida, quando fui procurar apoio psicológico. Tive sorte de encontrar tudo o que foi, para mim, o melhor caminho - o da Análise Transacional, tema que tratei neste blog na postagem “Os Jogos da Vida”.

Concluí o curso 101, que é o inicial, com um trabalho que teve o mesmo título deste texto e que começa lembrando que todos nós temos um tio, um primo mais velho, um avô ou mesmo um amigo que sempre nos oferece uma palavra sábia ou uma história reveladora. Podem ser mesmo frases ou ensinamentos dos quais ainda nos lembramos com sentimentos de saudades, sim, mas sempre agradáveis.
 

Ainda criança, morava com pai, mãe e irmão mais novo num sobrado das Perdizes com um grande quintal onde, entre plantas rasteiras, arbustos e algumas árvores maiores, havia uma nespereira plantada num recorte frio da casa aonde não chegavam os raios de sol.

A nespereira foi crescendo rapidamente e já chegava perto do beiral do telhado, mas para minha frustração nada das esperadas nêsperas. E foi um daqueles tios que mostrou a tal sabedoria, explicando que, normalmente, essa árvore não cresceria tanto assim, ou nem tão rapidamente, mas ela precisava de luz solar para produzir seus frutos, disponibilizar suas sementes e assim preservar sua espécie - era a lei da natureza.

E não deu outra, porque quando as folhas dos galhos mais altos avistaram finalmente o astro-rei, as primeiras flores despontaram e fizeram surgir, ainda que timidamente, o lindo amarelo de suas pequenas frutas.

Antes ainda de me sentar nos bancos da escola primária, já aprendera eu essa preciosa lição - que seres vivos, sejam eles plantas, animais ou mesmo humanos, nascemos todos com nossas próprias e únicas características e, sem exceção, recebemos em nossa origem vital, uma determinação quase mágica para viver, crescer e multiplicar.

Essa é a missão fundamental que se observa desde nossa concepção, na luta do feto para vencer todos os obstáculos e compor estrutura física suficiente para romper o jugo da placenta e então respirar por sua própria conta e risco.

A nespereira alterou seu projeto-padrão para suplantar a barreira daquele telhado opressor e receber energia solar, única maneira de garantir que suas funções orgânicas fossem capazes de dar conta da missão que a natureza lhe confiara.

Mais tarde, e como consequência desse aprendizado, descobri também que, a qualquer tempo de nossa vida, estará imperando nosso compromisso de buscar o sol, mesmo e principalmente quando o ambiente parecer muito frio, e sejam quais forem as vozes interiores que nos tentem dissuadir de nosso propósito.

E por termos recebido a graça do livre arbítrio, cabe-nos, não só por nós, mas pelos que amamos e que nos amam, o dever maior de nos cuidar, de viver, crescer e prosperar.

domingo, 4 de abril de 2021

- LÉO -  


Tessy foi nossa primeira e maravilhosa Border Collie que, além da alegria, inteligência e hiperatividade próprias da raça, nos deu também três belas ninhadas. A primeira e a última com um macho de seu canil de origem, lá no Butantã, em São Paulo. A segunda foi com o Lupi, o cãozinho do Sérgio e da Rose ao qual, depois da cruza, passei a devotar meu mais profundo respeito pelo êxito obtido após a inacreditável tarefa de romper vários vergalhões de aço do recinto onde estava isolado, coitado, e ainda da malabaríssima performance ao emprenhar uma parceira duas vezes mais alta, essa, agora sim, coitada, no sentido etimológico da palavra.

Mas foi só no terceiro coito que ganhamos Timão (assim nomeado quando o alvinegro paulista deixou a segunda divisão em outubro de 2007) e Léo, assim chamado porque sua cor destoava dos demais e lembrava muito a de um leãozinho. A restante meia dúzia dos oito puppies foi doada para bons amigos, dos quais, nesse momento, lembro-me do João, grande amigo baterista, hoje gerente de cultura da Prefeitura dessa nossa adotada Extrema.

Léo já nasceu, cresceu e viveu de forma incomum, a primeira delas na própria concepção, pois temos sérias suspeitas de que, apesar da cruza ter acontecido e ter sido registrada lá no canil do Butantã, há indícios de que um último óvulo possa ter sido fertilizado a partir de uma pulada de cerca no momento em que chegamos com Tessy de volta ao sítio.

Vivemos uma curiosa época na qual a diversidade vem ganhando muito valor e Léo, aproveitando-se dessa onda, tornou-se o líder, o macho-alfa. E até ele, o Timão, apesar de típico tricolor da raça, mais forte, ágil e natural merecedor dessa glória, teve de aceitar a indiscutível liderança de seu irmão.

Além dessas, as outras qualidades do querido Léo foram o acolhimento, a amizade e a segurança que ele sabia tão bem expressar e que quase todos sentiam, retribuíam e não economizavam atenção e carinho. Quantas vezes foi ele o cicerone dos que visitavam o sítio pela primeira vez, quantas vezes acompanhou amigos e familiares pelas trilhas na mata ou por longas caminhadas pelas vizinhanças rurais de nossa propriedade.

Léo sofria de um problema no sistema digestivo, decorrente, muito provavelmente, de uma mordida de cobra, sofrida quando tinha uns dois anos de vida. Seu pâncreas tornou-se deficiente e exigia um reforço contínuo de creatinina. Essa moléstia acabou afetando suas adrenais, o que nos obrigou a ministrar remédios mais fortes e que o mantiveram vivo, mas com o organismo bastante prejudicado, embora ele ainda se mostrasse bastante ativo.

Léo era nosso mestre de cerimônias, função da qual nunca abriu mão até seu último dia. Já semiparalisado, arrastou-se, naquela manhã do sábado de Aleluia de 2021, para o local de onde monitorava a chegada dos automóveis para depois galopar até o estacionamento e manifestar, com vigorosos abanos de rabo, as melhores, mais alegres e autênticas boas-vindas aos visitantes.

Ah, que saudades...




sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

  --  O ANO DA PANDEMONIA – PARTE I  --



Como prometi lá na postagem inicial, escrevo esse texto só para registro, muito a contragosto e porque promessa é dívida.

O ano de 2020 nasceu sob ameaça de dois problemas causados por diferentes agentes, primeiro, uma pandemia fruto da ação de um microscópico elemento, cuja vitalidade ainda é discutida, e segundo, um pandemônio estrelado por elementos certamente muito vivos, macroscópicos e de nossa própria natureza humana.

Como resultado estamos vivendo, com perdão do neologismo, uma pandemonia, da qual não se sabe ainda se o primeiro agente foi criado ou desenvolvido pelo segundo. 

O que a ciência sabe do COVID19 ainda é pouco, um vírus senão novo, mas renovado e que gerou pesquisas em vários países e uma corrida para obtenção de vacina e/ou de medicamentos que pudessem ajudar na cura dos que foram infectados.

Já agora, iniciando 2021, temos quase um ano de dúvidas, já superamos os dois milhões de mortos no mundo, duzentos mil no Brasil, meia dúzia de vacinas, algumas parcialmente garantidas pela nossa Anvisa. Isso tudo é uma coisa nunca antes vista no planeta, pelo menos não com essa intensidade, globalidade e velocidade.

Estatisticamente estamos falando, grosso modo, em uma morte por conta do Covid19 em cada mil habitantes. Entretanto não se sabe quando essa pandemia vai acabar, até porque já ocorrem novas ondas, reincidências e mutações do tal vírus.

A segunda tragédia é o pandemônio que se instalou na direção do país, governantes que parecem não enxergar a tragédia das vidas que estão sendo destruídas e que deixam as pessoas (devo dizer eleitores?) atônitas, na dúvida entre usar as proteções que a ciência não cansa de falar ou acreditar no diminutivo governo da gripezinha.

Chegamos à inacreditável situação onde a virulência do Covid19 passou a ser uma discussão de caráter ideológico: de um lado um grupo menor, mas poderoso, que elegeu, sem nenhum dado científico, um medicamento como eficaz no combate à doença, e "não se preocupa" com a vacinação; de outro lado, os políticos de ocasião que, claro, só têm como alvo as eleições, mas que de alguma forma seguem, ainda que por interesses outros, a comunidade científica.

Como consequência dessa dicotomia o povo, em geral cansado do isolamento forçado, impedido sequer de buscar o calor humano dos encontros, vendo o desemprego atingir números perigosos, opta, consciente ou inconscientemente, pelo caminho mais fácil, desqualificando o perigo pandêmico.

O ANO DA PANDEMONIA – PARTE II


Metade de Janeiro já passou e assistimos horrorizados à BRIGA DAS VACINAS.

Voltaremos ao assunto, quando da atualização de um placar virtual que até agora indica vitória do Vírus por 2 a 0. 

Mas ainda estamos do primeiro tempo.

Quem viver verá.

Até mais.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

 A NEVES DA ROCHA

 

Na postagem inicial desta série, onde fiz o “resumo resumido” da minha história, passei depressa por uma das fases mais interessantes, divertidas e inesperadas. Refiro-me ao trecho que começa com a construção da casa no Itanhangá, e da escada caracol adquirida por leilão no Joquei Clube do Rio (está na postagem "O LIVING ROOM"). Agora cumpro o prometido lá: relatar um dos tantos episódios vivenciados naquele percurso.

A rua era a Engenheiro Neves da Rocha e não sei se seu traçado, que se iniciava reto e firme, esboçava uma praça a sua esquerda, e depois uma quadra, voltando bruscamente sobre si mesma a fechar um desenho urbano pouco comum, tinha algum poder sobre as pessoas. Ou se era a cachoeira que, lá bem atrás do loteamento, ao oferecer obstinadamente o som suave da música de suas águas, era quem desempenhava o papel de produzir fortes e ricas amizades naquele nosso microuniverso

Isso para dizer que Jorjão e Teca do lado da cachoeira, Marisão e Tio Heitor do lado da rua que voltava, faziam com que nós, eu e Sonia, paulistas pouco habituados aos costumes cariocas, sentíssemo-nos totalmente em casa, mesmo estando em nossa casa.

Lembro-me de que o primeiro encontro real desses seis personagens foi proposto por este paulixxta que lhes fala, sugerindo (por óbvio) uma pizza em algum lugar da Barra da Tijuca. Não, não vou falar das pizzas cariocas com ketchup, não neste momento. Falo da hora da conta, que este esdrúxulo paulista se propõe pagar, esperando aquelas gentis manifestações dos demais cavalheiros à mesa.

Nunca, mas nunca me senti tão idiota ao constatar, incrédulo, uma total reversão de expectativa. Nunca, mas nunca mais saímos para uma pizza porque, já que é assim, pizzas e quaisquer outros eventos gastronômicos terão de acontecer aqui, na minha casa. E tenho dito!
Tem coisas que não mudam nunca...

Minto, teve uma coisa que mudou.

Era um dia festivo, não me lembro de que festa, mas Marisão, toda de branco com seus lindos e loiros cabelos me falava de um concurso de rádio do qual participara (e depois soube que levara o primeiro prêmio). Era um programa chamado A Grande Chance, de um tal de Flavio Cavalcante.
Minhas orelhas se levantaram como aquelas de um bem treinado cão de caça, arriscando:
- Claro, quem não se lembraria daquele personagem!
E passados alguns segundos de silêncio insisti:
- Então posso considerar que você canta.
- Cantava, respondeu sem me olhar.
Achei estranha a forma como disse, então ousei mais um passo:
- Mas quem cantou, ainda canta.
- Eu não. Parei de cantar há algum tempo, não tenho mais ânimo para isso, nem sei se ainda sei cantar!

Ah, não tive mais dúvidas de que eu estava no caminho certo. Só não continuei nessa linha de conversa porque já sabia que qualquer coisa que dissesse seria de pronto contestada. Aquele livro do Eric Berne já tinha me ensinado muitas coisas importantes sobre os mistérios da comunicação humana (leia "OS JOGOS DA VIDA" aqui neste blog).

Sentei-me ao piano que estava bem ali do nosso lado e comecei a brincar com algumas melodias sondando disfarçadamente a expressão facial de Marisão. Em alguns momentos ela sussurrou uma letra conhecida e eu, fingindo não prestar muita atenção, experimentei alguns acordes sugerindo a melodia a seguir. Esse processo durou não sei quantos segundos, minutos ou horas. Naquele astral não havia nenhum tempo real a ser medido. Então podemos agora pular algumas semanas, talvez meses. 

O que se vai ver naquele living-room, não é só a escada caracol, mas um desajeitado contrabaixo num dos cantos, uma velha bateria do outro e lá naquela poltroninha perto da janela (não, de lá não se via o corcovado, o redentor, que pena Vinícius...), mas lá estava o violão.
 
Só posso dizer que Marisão recuperou o que que nunca tinha perdido, a voz mais afinada, o timbre mais delicioso e o ritmo mais contagiante. Ela cantava de tudo, de bossa nova a cançonetas napolitanas, de rock a valsinhas das vovós, de jazz a partido alto. Eu fazia o melhor que podia, mas ainda bem longe do que gostaria e muito mais longe do que o talento dela merecia.

Naquela época ainda não sabia nada sobre cifras, só contava com meu ouvido, que já tinha sido absoluto na minha adolescência, mas já era relativo, o que nem sempre me permitia transitar pelas tonalidades mais apropriadas à bela voz de minha cantora.

Não sei do que tanto conversavam Tio Heitor e Tia Sonia, mas eles não paravam de falar e era possível observar deles lances ocasionais de olhares orgulhosos ao observar suas caras-metades se divertirem tanto com aqueles números de Piano-Voz.

A presença de Jorjão e Teca tornava os encontros ainda melhores, eles curtiam tanto que não se contentavam em ouvir, mas participavam como podiam dos saraus que aconteceram durante todo o tempo em que moramos na inesquecível Neves da Rocha.

NOTA:

Marisa Rossi
Começou em Belo Horizonte nos anos 60, junto com os participantes do programa Brasa 4 da TV Itacolomi. Mudou-se para o Rio de Janeiro onde se graduou em Jornalismo e participou de diversas atividades artísticas na TV Tupi com destaque para a conquista do primeiro prêmio em “A Grande Chance” sob condução de Flávio Cavalcante em 1966. 
São doze faixas sendo que a última é a música é “Libera” (Free Again), com a qual venceu o concurso acima citado. Ouçam-na clicando em:
https://youtu.be/LbLyhgUm0bE


 



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021


COISA DE ÍNDIO 




Naquela segunda-feira, dia quatro de setembro de 1989, saí muito cedo de casa e enfrentei a Via Dutra até São Jose dos Campos, onde me juntaria a um grupo de engenheiros e técnicos do setor de Sensoriamento Remoto do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), então meu cliente.

De fato, lá iniciamos uma viagem em ônibus do próprio CTA (Centro Técnico da Aeronáutica) para um hotel fazenda onde realizaríamos um seminário sobre Desenvolvimento de Líderes, com palestras, filmes, música e artes plásticas, para cuja realização convidei alguns parceiros.

A viagem durou quase toda a manhã e o assunto não foi outro senão o jogo Brasil X Chile do domingo, cujo resultado nos deu condição para disputar a Copa do Mundo de 1990. Foi um jogo tumultuado no qual o Brasil ganhava de um a zero quando uma torcedora atirou um sinalizador em direção a Rojas, goleiro do Chile, o qual simulou ter se contundido (muitos de nós se lembram disso...). O time do Chile, já punido por aquela simulação, acabou se retirando do jogo aos vinte e oito do segundo tempo. Com isso a FIFA deu o placar de dois a zero para o Brasil, mas quem ganhou aquela copa, na Itália, foi a Alemanha.

Durante a viagem ficou clara a preocupação de um dos engenheiros do grupo que recebia diversas ligações radiotelefônicas, às vezes até parando o ônibus e saindo dele para obter melhor sinal. Vivíamos uma época anterior à da telefonia móvel, só implementada no Brasil alguns anos depois. Em consequência da comunicação precária, só pudemos compreender a extrema seriedade do problema ao chegarmos a nosso destino.

Quem não chegou a seu destino foi o voo Varig RG-254, com quarenta e oito passageiros e seis tripulantes a bordo, tendo no dia anterior decolado do aeroporto de Marabá, ou seja, no domingo, três de setembro, às 17:35h, com previsão de pousar em Belém do Pará ainda antes do pôr do sol.

Falar em posição do sol na aviação comercial não era proibido ainda, como parece ser nos dias de hoje, dada a sofisticação tecnológica da instrumentação aeronáutica. Mas parece que o comandante Cézar Augusto Padula Garcez não se entendia bem com as posições do astro rei, ou as considerava coisa de índio. Ah, houvesse um índio naquela tripulação e quantas vidas se salvariam!

A questão que preocupava não só nosso engenheiro, mas a Varig, o SALVAERO (entidade de busca e salvamento da aeronáutica) e todos os que acompanhavam o mistério daquele voo era: onde estará o Boeing 737-200, matrícula PP-VMK?

Nosso diligente e preocupado engenheiro, já tinha essa resposta lá pelas nove da manhã, com a localização precisa do avião (ou de seus destroços) e de seus viajantes (ou de seus corpos). Só que o mundo “lógico” se recusava a acreditar, pois o RG-254 e estaria “com certeza” na faixa Marabá – Belém, afinal muitos testemunharam sua última decolagem. Mas o local do acidente segundo transmissões do satélite era perto do Parque do Xingu, cerca de 1.200 km do destino planejado do voo. Impossível!

Um outro engenheiro que assumira o controle da estação receptora de satélites em Cachoeira Paulista já havia informado, por repetidas vezes, a localização do Boeing que, destroçado ou não, ainda emitia um sinal automático acusando sua localização.

Mas a SALVAERO, a Varig, e para piorar, as Tvs e Rádios que entraram no circuito (e que tinham tudo “em primeira mão” e de “fontes confiáveis”) propalavam notícias de estrondos e clarões observados nas proximidades da rota planejada daquele Boeing. Parece que ninguém levava a sério os dados de satélites, até porque o sistema de Cachoeira Paulista havia sido instalado recentemente e era melhor “não dar muito crédito a essas novas tecnologias”, afinal o avião, “definitivamente não poderia estar lá”.

(Digam se isso não se parece um pouco com a atual polêmica sobre as vacinas para o Covid-19, uma discussão sobre detalhes técnicos de áreas das quais seus atores, políticos ou não, jamais tiveram o menor conhecimento).

Existe uma forte razão primária para explicar o desaparecimento daquela aeronave que é a seguinte: enquanto o copiloto fazia a inspeção externa no Boeing pousado em Marabá, o comandante Garcez ajustava a nova rota para Belém que era 0270, com esses quatro dígitos que, conforme as novas normas da companhia, significaria um ângulo de 027 (vinte e sete graus) em relação ao Norte. Assim Garcez girou o dial do HSI (indicador de posição horizontal), que apresentava números com três dígitos, até que o ponteiro em forma de aviãozinho chegasse ao número 270 (duzentos e setenta graus). E tudo pareceu bem para o apressado comandante, afinal o primeiro tempo do jogo terminaria em poucos minutos.

Mas podemos encontrar uma razão secundária: se foi a pressa ou porque sabia que seu superior não gostava muito de perguntas, o copiloto Nilson de Souza Zille, ao invés de recitar o checklist, achou melhor olhar para o HSI do comandante e ajustar o seu da mesma forma.

Em aeronáutica sabe-se que acidentes nunca decorrem de uma única causa. De início a Varig tentou restringir o problema à falha dos dois pilotos. Mas investigações posteriores levantaram diversas outras possíveis causas, como a elaboração de um mapa que induzia o leitor a erro e a desatenção do Controle de Voo de Marabá que não observou a proa do avião em direção totalmente diferente da prevista. O próprio comandante, além do erro crasso já cometido, errou mais ainda ao não informar os pilotos de outras aeronaves, com os quais teve contato por rádio durante o voo, do fato de que ele estava completamente perdido na selva.

É preciso destacar ainda a falha do SALVAERO que, se desse crédito às informações de satélite, obviamente não poderia evitar o acidente, mas certamente teria evitado a morte de pelo menos uma passageira que não resistiu ao tempo de espera do socorro.

E quais foram os verdadeiros heróis da tragédia? Bem, quatro homens, depois de 36 horas quase sem dormir, um com ferimento na cabeça outro na perna e dificuldade para andar, decidiram enfrentar a selva, afinal com um pouco de sorte, uma fazendinha ou um povoado talvez pudessem ser encontrados.

Assim, no clarear da terça-feira, Epaminondas, Afonso, Antonio Farias e Marcionílio saíram em uma busca desesperada, com uma caixa de sanduiches azedados, três isqueiros, um canivete, um colete salva-vidas e dois foguetes de sinalização.

Sob uma mata fechada de onde mal se podia ver o céu e depois de uma hora de caminhada, depararam, exultantes, adivinhem com que? Com bosta de vaca! Foi com esse alento que conseguiram fazer outras três horas e meia de caminhada para finalmente chegarem a um roçado e avistarem uma casa de fazenda. Esse momento marcou o triunfo da expedição e o salvamento de muitas vidas. 

Porém foi difícil para aqueles quatro homens, num primeiro momento, acreditar que estavam na fazenda Crumaré do Xingu, município de Luciara, estado de Mato Grosso! 

Muito, mas muito mais difícil do que isso, foi convencer, por rádio, as autoridades do SALVAERO, de que eles fossem, de fato, quatro dos sobreviventes do acidente do RG-254. E mais, que eles, um Boeing destruído, alguns corpos e diversos outros sobreviventes estavam realmente no Estado de Mato Grosso! 


Quem quiser conhecer muito mais sobre este e outros dois acidentes aéreos, procure o livro “Caixa Preta” de Ivan Sant’anna que discorre sobre eles com enorme riqueza de detalhes.


Ah, sim, o seminário com o pessoal do INPE foi bem legal!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

OS JOGOS DA VIDA 

A ORIGEM


Foi num voo que iria me levar de volta para casa e que decolou de Belo Horizonte, local para onde deveria ter ido encontrar algum cliente, não me lembro quem, afinal, tenha paciência... isso faz mais de meio século! Porém, do que relato a seguir, jamais me esquecerei.

A decolagem já estava atrasada devido a condições atmosféricas adversas quando tivemos notícia de que esse atraso iria se prolongar por mais uma ou duas horas. Tempo ruim também em BH, não havia muito o que fazer a não ser dar mais uma xeretada na banca de revistas em busca de qualquer leitura que me distraísse durante o elástico tempo de espera anunciado (porque acaba sempre sendo maior).

Antes de prosseguir com a história, quero conversar aqui sobre uma questão que sempre me persegue. Conversar? Sim, é possível conversar com alguém ausente através da técnica da “cadeira vazia”. É como o jogador de xadrez que joga com ele mesmo, colocando-se cada vez de um lado do tabuleiro e raciocinando como se fosse o dono do lugar. 

É o seguinte: você já observou como diferenças, às vezes insignificantes, podem determinar alterações dramáticas no nosso futuro? Certamente que sim, mas logo esqueceu o assunto, não foi? Afinal, é vida que segue. Costumamos dizer que se o VAR não tivesse validado aquele primeiro gol do nosso adversário, o resultado teria sido nossa vitória, porque nosso time do coração acabou fazendo um gol no final do segundo tempo. Alguns poderão concordar com esse raciocínio, mas outros dirão que não, afinal se o primeiro gol fosse validado, o jogo seria completamente outro – no que estarão cobertos de razão. Então espero estejamos de acordo com o fato de que, até as micro-decisões que tomamos a cada momento acabam sendo cruciais para o que vai suceder mais adiante. 

Retomando a história, minha micro-decisão de comprar um livro naquele momento ocioso, não deveria fazer diferença alguma, não iria mudar o andar da carruagem (no caso a rota da aeronave), o humor do piloto ou das nuvens negras e, muito menos, o desenrolar dos acontecimentos na minha vida. Mas não é assim que o universo funciona.

Eu comprei um livro porque o título me chamou atenção: Os Jogos da Vida. Fiquei sabendo que foi escrito por um médico psiquiatra norte-americano nascido em Montreal, Canadá, chamado Eric Lennhard Bernstein e conhecido como Eric Berne (1910 – 1970).

Comecei a ler numa cadeira de aeroporto, continuei a leitura atenta durante o voo e fui acabar de ler na cama, em casa. O livro explicava coisas que entendi como dificuldades que enfrentamos no dia a dia e possibilidades de melhor lidar com elas, tudo com uma linguagem bastante lógica de fácil  compreensão.

Como na época ainda não tínhamos googles, youtubes nem redes sociais, fiquei aguardando alguma oportunidade para saber mais sob aquela linha de pensamento tão clara e objetiva. E levou anos para que isso acontecesse.

O ACHADO

Passou o tempo e a empresa da qual eu e meus dois sócios éramos também diretores cresceu e se transformou em Sociedade Anônima com a inclusão societária, porém minoritária de uma entidade que promovia desenvolvimento empresarial. Fui o indicado para participar de um seminário de fim de semana promovido pela tal entidade. E qual não foi minha surpresa quando vi que o programa incluía um dia de trabalho sobre a teoria e as técnicas desenvolvidas pelo autor daquele livro: o Eric Berne.

Participei ativamente daquele evento e fiquei sabendo que o autor, que falecera alguns anos atrás, contava com dedicado grupo de trabalho que levou adiante, aperfeiçoou e acrescentou novos instrumentos às práticas concebidas e já aplicadas com sucesso, as quais se organizavam sob o título de Análise Transacional (AT).

A piada óbvia de uma das palestrantes era de que o tema ministrado tratava da maneira como as pessoas transacionam e não de como elas transam... Ao final do evento, procurei-a, também e obviamente para transacionar, na busca de mais informações, de saber quem eram e onde estavam os profissionais locais da AT, como fazer contato, como aprender com eles e tudo o mais. Tivemos um bom tempo para isso voltando no mesmo voo.

Claro, um caso particular não comprova minha tese inicial, mas para mim, o atraso de um voo, que causou a compra e leitura do livro, que causou o interesse num evento, que me levou a um evento, depois a  uma terapia, à formação em A.T. e a uma nova prática profissional, foi o bastante para mudar minha vida e encarar seus bons e maus momentos. 

E, o mais importante, aprendi a ser grato até a um mau tempo!

 


INFORMAÇÕES SOBRE ANÁLISE TRANSACIONAL A QUEM INTERESSAR POSSA.

No Brasil contamos com UNAT (União Nacional de A. T.), com a ALAT (Associação Latino-americana de A.T.) entidades divulgadoras e certificadoras de profissionais da área. A formação em A.T. se inicia por um curso básico chamado 101, aberto a todos os interessados. O curso 202 tem um ano de duração e prepara profissionais de medicina, psicologia e pedagogia para os campos clínicos e educacionais. Mas a A.T. se aplica também ao estudo dos grupos e organizações e para tal conta com uma especialização que atende a profissionais nas áreas da administração e negócios, gerência empresarial e formação de líderes. Existe vasta bibliografia sobre Análise Transacional e também há grupos praticantes tanto no Brasil como na Argentina, Chile, Peru.

No meu caso, fiz o curso 101 e quem o ministrou foi o Beto, com quem não faço contato há muitos anos, mas a quem considero um grande amigo - Dr. Roberto Tadeu Shinyashiki, médico psiquiatra, palestrante e empresário.

Em seguida fiz também terapia e com ele mesmo cursei e concluí o 202, recebendo meu título de membro regular da UNAT e ALAT para a área organizacional em 1983. Frequentei todos os congressos anuais de 1981 a 1995 e conheci inúmeros brasileiros, norte e latino americanos que trabalhavam com a Análise Transacional. Atendi mais de uma centena de empresas no Brasil, Argentina, Costa Rica e fui muitas vezes ao Peru onde também tive ótimos clientes e participei de eventos como palestrante convidado. Atuava na condução de cursos e seminários, diretamente ou em parceria com organizações promotoras de eventos. Tive alguns ótimos parceiros que dividiam a carga comigo ou a complementavam com suas especializações na área da psicologia.

domingo, 27 de dezembro de 2020

 



O LIVING ROOM 



Os anos setenta, como já contei na postagem inicial, foram para mim os tais “anos dourados”, e não os cinquenta, como cantava Chico Buarque nas rádios da época. O tempo útil que sobrava da semana era a sexta-feira no avião, uma vez que nosso belo escritório ficava em Botafogo, mas a obra se estendia pelos quinhentos quilômetros do porto de Tubarão até as áreas mineiras das Minas Gerais.

E era nesse tempo que eu lia a parte mais leve dos jornais, a ilustrada, a do lazer e dos eventos culturais. Foi numa dessas que vi um edital do leilão de um bar e uma biblioteca do Joquei Clube do Rio de Janeiro. Nunca me interessei por cavalos e muito menos pelas suas conquistas. Não sei o que me chamou mais a atenção, se o termo “biblioteca” ou, mais provavelmente, o termo “bar”.

Quanto ao primeiro, logo vi que não se tratava de raças ou rações para equinos, nem de selas ou bridões, muito menos de prêmios conquistados ou novidades veterinárias. Quanto ao segundo, preferi ler o edital completo antes de me entusiasmar muito... O que se estava a leiloar eram estantes para livros, sobre um mezanino com escada caracol, pisos de tábuas largas e corrimãos trabalhados. O capítulo bar não citava líquidos fermentados, muito menos destilados, mas sim um balcão enorme, com prateleiras de madeiras entalhadas.

O impulso de fechar aquela página sumiu ao me lembrar de minha arquiteta, que também tinha funções de esposa (claro, além de tantas outras que mulheres adoram enumerar, e com toda a razão...) Fato é que ela estava no momento procurando soluções para acomodar um bar junto ao living da casa que estávamos a construir no Jardim Itanhangá, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. E não é que as tralhas que o Joquei estava leiloando, certamente para se livrar delas antes de inaugurar sua nova sede de campo, poderiam até ser úteis?

Mas o leilão era dia... hoje? É o que dizia o edital, que prossegui lendo. As peças poderiam ser vistas no mesmo dia, quer dizer... hoje? Parece que sim, e até as 14 horas! Olhei para o relógio  e depois para a janela do avião, dia lindo, sobre a água, já se via a baia de Guanabara? Eu me distraí com aquele leilão, já devíamos estar nos preparando para pousar no Santos Dumont.

Mas onde o tal leilão aconteceria? Voz feminina interrompendo: “...senhores passageiros... encosto na vertical... apertem seus cintos...” Antes de fechar o matutino anda vi o endereço: Av. Rio Branco, número... já sei onde é! Fechei. 

Era quase uma da tarde. Será que dá tempo? Pensei Rio, lembrei Caetano, Vinicius, o Cristo do Corcovado, é sexta-feira e estamos no Rio de Janeiro. É óbvio que vai que dar tempo!

Para encurtar esta conversa, depois de ter visto, ainda que superficialmente e desmontados, num galpão, não só o bar e a biblioteca, mas arandelas e grades de sacada tudo isso inspirado no neoclássico inglês, não tive como não arrematar um caminhão de ferros e madeiras que na sexta-feira seguinte chegou ao Itanhangá com sua preciosa carga. Mas não o bar, oh decepção. A peça tinha uns oito metros de extensão não caberia nem sonhando em nossa sala. Mesmo assim o resultado não correspondeu às expectativas. Simplesmente superou-as, e muito! 

E tem mais, as arandelas eram maravilhosas peças de bronze, as grades de sacada que pareciam ser de ferro, depois de limpas revelaram também seu bronze e, claro, dispensaram qualquer retoque. A biblioteca era uma peça magnífica de madeira trabalhada com cristais bisotados.
A escada em caracol tornou-se a “prima donna” daquele, agora sim, merecidamente chamado, “Living Room”.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020



TECNOLOGIA E O TREM DAS ONZE


Contei já a história da menina mordida pelo cão raivoso (*) e que foi salva pelo radioamadorismo. Mas ainda não contei porque me interessei tanto por essa atividade e acabei me tornando o PY2-DJK. 

Isso aconteceu porque, com oito ou nove anos ganhei um kit de rádio galena supersimples (não sei quem me deu) que funcionava sem nenhum tipo de energia elétrica e com o qual se podia ouvir as emissoras mais fortes de cidade. Eu mal acreditava que aquilo seria possível! Como bom curioso (há quem diga que isso é típico dos cancerianos) queria saber mais. 

Anos depois tive a influência de meu pai que, muitas vezes, às nove da noite, gostava de ouvir as ondas curtas da BBC, emissora londrina que irradiava o Big Ben e suas doze badaladas da meia-noite; e depois os comentários dos jornalistas sobre as notícias do dia no Reino Unido e do mundo. Eu o observava, nos meus doze anos, cada vez mais fascinado com o milagre das ondas eletromagnéticas. 

Aquele aparelho no qual meu pai ouvia a BBC era uma rádio vitrola de móvel, na qual ele gostava também de apreciar um Tchaicovsky com a orquestra Pops de Boston, em especial o Nutcraker (Quebra-Nozes) gravado naqueles bolachões de 12 polegadas, ainda em 78 rpm. 

Poucos anos após chegaram os discos de vinil de 10 polegadas, mas no novo padrão de 33.3 rpm - e eu não me conformava em não poder ouvi-los na nossa radio-vitrola. Poderíamos até trocar a cápsula com agulha para os novos sulcos mais finos, mas e a rotação do prato? Não achei outra opção senão desmontar o mecanismo, retirar o pequeno motor, abri-lo e levar o rotor para uma oficina de um torneiro mecânico lá das Perdizes. Pedi que ele reduzisse o diâmetro da ponta do eixo que acionava a polia, para a medida que eu calculara (um primo que já estava na Poli me ajudou nessa façanha físico-matemática). 

Nessa altura meu pai estava tão envolvido com seu trabalho que, felizmente, esqueceu um pouco do Big Ben e do Tchaicovsky e eu pude me deliciar com o Rock-and-Roll do Elvis Presley, o Jazz do Stan Kenton e tantas outras músicas na rotação correta! Até porque depois que mudamos para o Pacaembu ninguém achou mais os velhos discos de cera, talvez tivessem se quebrado no transporte, sei lá. Juro que não fui eu!

Mais tarde ia passear na Santa Ifigênia, apreciar as novidades do mercado da eletrônica. Numa dessas comprei um chassi de rádio e comecei a montar, peça por peça, fio por fio, um rádio transmissor básico a partir de um circuito publicado numa revista (e aí foi falta de experiência mesmo). Seriam precisas ainda muitas peças e muitos cruzeiros até que eu pudesse realizar meu sonho – construir e operar meu próprio equipamento de rádio comunicação. 

Tive de adiar o projeto, estudar um pouco mais de inglês e entender melhor o “The Radio Amateur’s Handbook”, único livro disponível sobre o tema. Eu já sabia que um transmissor seria mais simples de construir, mas o receptor seria o problema maior. Nenhuma chance de praticar radioamadorismo com as ondas curtas de um rádio comum (e eu já tinha construído um). Nas lojas especializadas, dos especiais  só havia modelos importados e de custo elevado. 

Superei essa frustração voltando aos projetos de som logo que surgiu a “Alta Fidelidade”. Para isso eram precisos amplificadores melhores, cápsulas mais sensíveis (de relutância variável) e alto-falantes especiais. Com menos roncos e chiados, o som pedia melhores alto-falantes para os graves (woofers) e para os agudos (tweeters) e exigia caixas desenhadas para acomodá-los física e acusticamente. Nessa fase, como era para atualizar o som da família, consegui aprovar um crédito suplementar, ainda insuficiente, mas pouco a pouco fui montando o som de alta fidelidade. 

Logo depois apareceram os estereofônicos, que exigiam praticamente a duplicação do sistema - o som seria captado e trabalhado em dois canais independentes. Preferi deixar isso quieto, o som já estava legal. 

O projeto radioamador ficou para bem mais tarde – só foi retomado e realizado depois da faculdade, quando começou o período no qual aconteceram muitos episódios deliciosos como aquele da menina e do cachorro louco. 



E O FUTURO JÁ ESTÁ PRESENTE 

Agora, saltando de vara sobre o tempo, vou fechar essa crônica com um comentário que está pululando na cabeça de muitos de nós, estupefatos como avanço exponencial da tecnologia das comunicações. 

Só para dar uma ideia, leiam esse trecho retirado de informações que recebo do “Clube do Hardware”, um site que, entre outras funcionalidades, envia as novidades na área: 

A Nokia deve liderar o projeto 6G - Hexa-X, que começará em janeiro de 2021, com duração prevista para dois anos e meio. Ele contará também com as companhias Ericsson, Siemens, Orange e Telefónica, além de universidades e institutos de pesquisas.  
Segundo estimativas, a rede 6G deverá ser adotada apenas em 2030 e usará frequências na faixa dos terahertz e será até oito mil vezes mais rápida do que as atuais. 

No Brasil o processo de adoção da rede 5G ainda depende da liberação de leilões das faixas de frequência pela Anatel. Ainda não se decidiu se a gigante Huawei participa ou não, e essa é uma questão central para publicação dos editais. Inglaterra e Estados Unidos (com Trump), já decidiram que não. E agora, Joe? E agora, Jair? 


Para esclarecer: no Brasil, atualmente estamos testando o 5G DSS, de forma extremamente precária, compartilhando vias de transmissão com o 4G. Ou seja, é como se estivéssemos colocando um trem-bala nos trilhos da maria-fumaça que puxava o TREM  DAS ONZE!  

(*) Veja "O VOO DE DOMINGO AO MEIO DIA"

domingo, 20 de dezembro de 2020

 DOUCE FRANCE

 

Só depois de longos quinze anos, pela primeira vez na minha vida como gente grande, tirei férias. E pela primeira vez deixamos os pentelhos com os avós e fomos passear na Europa. Tinha de ser em alto estilo, né?

Meu empregador não brincava em serviço e não perdia viagem, principalmente quando se tratava de viagem dos outros. Arranjou-me uma encrenca para “quando você estiver em Paris, talvez possa dar uma passadinha...” Não sei se passadinha é menor do que passada, nem sei se passada é menos do que “deslocar-se de seu roteiro e ir a um local que fica só a trinta e cinco quilômetros da Torre Eiffel”. Mas, seja lá o que for, tudo por um Brasil melhor!

O local era sede do fabricante de um aparelho de ultrassom projetado para inspecionar o concreto nas fundações dos viadutos em construção na Via Norte, hoje Rodovia dos Bandeirantes. Esse aparelho deu pau e caiu nas minhas mãos porque alguém me dedurou como o cara que consertava televisão. Disse que o melhor seria fazer contato com o fabricante, dai a "sugestão" para a tal passadinha. 

Lá fui eu conhecer o francês que projetou a geringonça, ainda de tecnologia analógica e com componentes especiais, isto é, ainda não validados pela prática corrente, o que sempre é um problema porque não há peças no mercado para reposição.

O francês, não lembro seu nome, com jeito muito simples, um tanto tímido, quase mudo quando não se tratava de assuntos de sua especialidade, revelou-se na hora do almoço como alguém cioso do papel de legítimo francês, defendendo sua terra natal naquilo que ele considerava uma de suas mais preciosas conquistas ao longo de sua história e de sua cultura.

Vocês, leitores espertos, já sabem do que estou falando. Não... não foi da vitória final da Guerra dos Cem Anos. Foi de algo muito mais importante, falo da obtenção do melhor Bourgogne, do mais fino Beaujolais ou mais intenso Bordeaux.  

Vocês não vão acreditar, mas naquela mesa do refeitório onde me levaram para o que eu imaginava ser um simples almoço, o acanhado francês virou um leão. Fez voltar pelo menos meia dúzia de vinhos servidos e não aprovados por suas sensíveis e experientes papilas gustativas. Afinal, meio a contragosto, aceitou uma garrafa, nem sei do que era, e me serviu. 

Ainda surpreso com aquela inesperada intervenção, o melhor que pude fazer foi experimentar o primeiro gole, fingir avaliar por alguns segundos que me pareceram séculos, pois todos os convivas me olhavam sem piedade, aguardando alguma manifestação. Era como se o Louvre estivesse a ponto de ser invadido pelo Estado Islâmico. 

Vocês não imaginam meu sofrimento, minha dúvida na busca desesperada de alguma atitude para sair daquele apavorante silêncio francês. Cheguei a pensar que aquilo fosse uma brincadeira que o Maurinho (meu chefe) ou o Maurílio (um parceiro na direção da filial de São Paulo) tinham programado com seus amigos parisienses. Mas não, tudo indicava que de Napoleão a Macron, nada existiu de mais sério.

E acabou meu tempo. Coloquei solenemente o copo na mesa, fiz a melhor cara de aprovação  e aguardei o resultado. Olha, se o Paris Saint Germain tivesse ganho a Champions League a manifestação da galera não teria sido mais efusiva.

Respirando mais aliviado, olhei bem para cada um dos que degustavam solenemente cada gole daquela bebida e saquei que, obviamente, o assunto da máquina de ultrassom não se harmonizava  com os taninos daquele vinho. A partir de então a conversa ficou nas amenidades.

Encerrada a tal “passadinha” e voltando às proximidades da Torre Eiffel, como combinado, encontrei minha mulher e perguntei como tinha sido o seu dia, ao que ela toda feliz começou a me contar:

-  Então, meu bem, como estava só, decidi almoçar no hotel mesmo, mas antes passei num mercadinho e comprei um croque monsieur, meia garrafa de vinho francês e ...

- Pode parar por aí, nem me fale em vinho francês!

Ela parou, olhou-me surpresa, mas antes que pudesse dizer algo, levantei os braços e exclamei a alto e bom som:

- Meu Deus, finalmente estamos em Paris!